Maravilha italiana, a cidade dos canais atrai 24 milhões de turistas por ano
POR SERGIO TORRES
Veneza é a cidade dos canais, da Praça de São Marcos, do vaporetto, do casario secular, das pontes, das gôndolas. É também a cidade dos turistas. Milhares deles todos os dias, no verão e no inverno, chova, neve ou faça sol. Por ano, visitam Veneza 24 milhões de pessoas, estrangeiras a maioria delas. São 55 mil habitantes. A desproporção entre moradores e visitantes é brutal. Por mais incrível que pareça, nas altas temporadas há até congestionamentos humanos entre a estação ferroviária e a Basílica de São Marcos.
Por que tanta procura, afinal? O que atrai tanta gente? Talvez seja porque Veneza é uma cidade única. Não há no mundo um lugar igual ou parecido. Nenhuma das “Venezas” espalhadas pelos continentes chega perto da beleza da Veneza original. São exemplos Annecy (França), Aveiro (Portugal) e até a brasileira Recife – todas com suas qualidades e atrativos. Mas Veneza é singular.
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Construída sobre 118 ilhas pequeninas separadas por 177 canais e ligadas por 354 pontes, Veneza existe do jeito como a conhecemos há quase mil anos. É a capital do Vêneto, na região nordeste da Itália. Só se chega a Veneza de trem ou de barco. Não há carros, não há ônibus, não há motocicletas. Todos os caminhos venezianos são para pedestres. A locomoção coletiva é pela água, em embarcações chamadas de vaporettos, que funcionam como ônibus marítimos, com pontos fixos de parada. Ou em gôndolas, alugadas a preços exagerados por casais, famílias e grupos de amigos.
O fato é que a questão inusitada dos transportes não explica a razão do incrível atrativo que Veneza exerce sobre o turista. De uma coisa não dá para fugir: a beleza arquitetônica ajuda muito. O conjunto de edificações preservadas há muitos séculos encanta e espanta: “Como pode essa cidade sair de dentro do mar?”, perguntam-se os boquiabertos turistas.
Todas as edificações da cidade têm bases e alicerces fincados no fundo da laguna. Os prédios surgem da superfície, lado a lado, um mais lindo que o outro. Por vezes, o traçado harmonioso das construções é quebrado por canais que se espalham, se dividem, desaparecem em uma espécie de labirinto.
Veneza toda é um labirinto. Se não houvesse placas indicando as direções das igrejas, pontes principais, palácios e museus, os turistas passariam perdidos a maior parte do tempo de estada na cidade. Mas as placas só estão presentes nas áreas turísticas. Fora delas, a chance de se perder em Veneza é imensa. E aí está uma atração que não é vendida pelas agências de viagens. Perderse em Veneza é uma maravilha!
A Basílica e a Praça de São Marcos, o Grande Canal, a ponte de Rialto, a Academia, o Palácio Ducal, a Ponte dos Suspiros e o Museu Peggy Guggenhein são apontados por guias como os principais atrativos venezianos. Com as placas, chega-se facilmente a eles. Visitá-los é obrigatório, especialmente na primeira visita à cidade.
Para o turista que já conhece Veneza, vale muito a pena arriscar. O ideal é fugir do trajeto tradicional, que começa à esquerda de quem chega pela estação ferroviária de Santa Lucia, rumo a São Marcos, caminhada que pode levar 30 minutos. Uma das opções é seguir para o Gueto Hebraico e para o Cannaregio, bairros tradicionais, com trechos que se assemelham a pequenas aldeias.
Tanto o Gueto quanto o Cannaregio são cortados por canais de tamanhos variados. Há os navegáveis, utilizados por barcos maiores, e aqueles em que nem as gôndolas se arriscam. Os becos e vielas se sucedem, muitos deles em curva, o que dificulta ainda mais a localização. Sem pressa, tudo se ajusta. Vale a pena andar a esmo. Ninguém conhece a Veneza real se não passar umas boas duas horas indo de um lugar para o outro, sem direção. Perdido, literamente.
Um passeio fora do roteiro turístico leva à Fondamenta Nove, alameda que acompanha o trecho norte da laguna de Veneza. Paisagem belíssima, ainda mais em dias ensolarados. Na Fondamenta Nove ficam os cais de onde partem barcos para as ilhas de Murano, Burano e Torcello, pérolas da Laguna Vêneta.
Comer e beber bem são parte do dia a dia do habitante de Veneza. Ao longo dos bairros populares – além do Gueto e de Cannaregio, há o Castelo e o Dorsoduro – funcionam bares que, mal comparando com o Brasil, seriam como os nossos tradicionais botequins. Lá, chamam-se “bacari”. Servem porções de tira-gosto (os “cicchetti”), feitos com pães fatiados, sardinhas, patês, pastas, embutidos, frutos do mar variados, legumes, tomates, cebolas e queijos. Para acompanhar, taças de vinho (“ombra”, no dialeto do Vêneto) e aperitivos como o típico Spritz (espumante, água gasosa e Aperol).
No roteiro off-turismo de Veneza, vale muito a pena conhecer a Escola Grande de São Rocco, no bairro de San Polo. É um fantástico palacete, dedicado à obra do mestre Tintoretto (1518-1594). O pintor veneziano passou 23 anos trabalhando no prédio. A Escola Grande guarda 56 obras sacras de Tintoretto, algumas delas de grandes proporções. Não costuma lotar. Não deixe de ir.
Cabe ainda conhecer, de acordo com o interesse intelectual do turista, a incrível livraria Acqua Alta, no Castelo. Cheia de gatos, é um sebo. Além de nas estantes, os milhares de livros, revistas, mapas, gibis e cadernos de arte são expostos dentro de gôndolas. Nos fundos da livraria, passa um lindo canal.
Uma bagunça maravilhosa.
A VENEZA TURÍSTICA
Praça e Basílica de São Marcos
Palácio Ducal e Ponte
dos Suspiros
Ponte do Rialto
Grande Canal
Gôndolas
A VENEZA SECRETA
Gueto Hebraico e Cannaregio
Escola Grande de São Rocco
Fondamenta Nove
Bacari e cicchetti
Livraria Acqua Alta