Qualidade de vida e belezas naturais atraem o turista para a região nórdica
POR SERGIO TORRES
Muito frio, neve, aurora boreal, fiordes, bacalhau, Polo Norte e qualidade de vida são características que ajudam a esboçar o perfil da Escandinávia, a região mais ao norte da Europa. Aos poucos, os atrativos turísticos dos países escandinavos atraem viajantes ainda presos ao circuito nobre do continente (França, Itália, Inglaterra e Espanha). Quem sabe, em pouco tempo, a palavra turismo possa constar da primeira linha deste texto?
A Escandinávia é formalmente integrada por Dinamarca, Noruega e Suécia, pelas similaridades geográficas e históricas. É comum incluir Finlândia, Islândia e até as Ilhas Faroé na lista dos países da região, para agrupar as nações nórdicas na mesma nomenclatura.
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Apesar do rótulo Escandinávia, cada país têm suas particularidades e agendas turísticas. São tantas coisas para ver que o visitante pode, com tempo e dinheiro, conhecer a região em até mais de uma viagem.
A Dinamarca costuma ser o portão da Escandinávia, pela proximidade com os países europeus. O acesso pelo sistema ferroviário que a liga à Alemanha é incrível. De Berlim, a capital alemã, parte um trem que em pouco mais de seis horas chega a Copenhague.
Para os brasileiros, desacostumados ao transporte férreo, a rota parece até história de ficção. Entre os territórios alemão e dinamarquês, o trem entra no porão de um navio – o acoplamento é suave, imperceptível. O encaixe nos trilhos da embarcação é perfeito, como se não houvesse diferença no piso. Por questão de segurança, os passageiros são orientados a subir aos pavimentos. Aí começa o melhor da viagem.
Do terraço do navio avista-se a vastidão do Atlântico Norte, com as águas geralmente acinzentadas, o céu em tons de azul e branco, as praias distantes, as aves em rasantes. Mesmo no verão, recomenda-se levar um agasalho ao convés. O vento é forte durante a travessia.
No navio, há um free shop com produtos a preços bem mais baratos do que no comércio da Europa. Há bares e restaurantes envidraçados, em que se aprecia a paisagem em ambiente calefatado, enquanto degustam-se iguarias dos países nórdicos, como o smorrebrod, sanduíche aberto de pão preto com ingredientes variados (rosbife, salmão, bacalhau, verduras).
No verão, a aconchegante Copenhague atrai turistas pela temperatura mais amena do que na Europa mediterrânea. No bairro Nyhavn, o casario colorido à beira-mar é o cartão-postal da capital da Dinamarca.
Dentre as atrações estão passeios em barcos turísticos, visitas a palácios e museus e até um bate e volta à Suécia, do outro lado do canal de Oresund, no Mar do Norte. O complexo rodoferroviária de 16 km liga Copenhague à cidade sueca de Malmo e é composto de uma ponte, um túnel e até uma ilha artificial.
Estocolmo, a capital do Suécia, fica mais ao norte. É acessível por trem, estradas e navios. Nela, andar por esplanadas litorâneas é um exercício de contemplação. O passeio mostra bem o que o ser humano consegue fazer para transformar a natureza inóspita em um centro urbano organizado, belo e receptivo a moradores e visitantes.
O conjunto de ilhas que originou a capital sueca pode ser percorrido a pé – há pontes por todos os lados. Barcos de passageiros rodam pelos canais, interligando os bairros longínquos. Imperdível o Museu do Vasa, que conta a história dos vikings, guerreiro povo nórdico que dominava os mares escandinavos há mais de mil anos.
Destaque da Escandinávia em termos de belezas naturais, a Noruega é o país mais caro. A bebida alcoólica tem preços elevados em relação ao resto da Europa. Hospedagens, passeios, transportes e refeições oneram o viajante. O turismo norueguês é dirigido àqueles com capital para, de cruzeiro, a partir da capital Oslo, conhecer os fiordes cercados por penhascos gelados ou contratar tours rumo ao Círculo Polar, na tentativa de ver a rara aurora boreal.
A Finlândia é uma espécie de “sócia” pobre da Escandinávia. Não pela pobreza, que inexiste, mas pelo menor número de atrações turísticas. O rótulo é injusto com o lindo interior finlandês e a capital Helsinque, de beleza clássica à beira-mar, catedrais, palácios e avenidas cortadas por bondes elétricos.
Tallinn, a Idade Média hoje
Tallinn, a capital da Estônia, é segredo para poucos. A Unesco a considera dona do mais preservado centro histórico medieval do mundo. Não é pouca coisa, já que há as cidadelas italianas, redutos de mais de 500 anos na França, vilas na Espanha. A despeito dos séculos, Tallinn sempre parece que foi construída na semana passada.
A Estônia é uma ex-república soviética que, informalmente, pleiteia a inclusão na lista de países da Escandinávia. A pretensão é compreensível. Tallinn está a duas horas de Helsinque, a capital da Finlândia. A travessia do Mar Báltico é feita em ferries diários.
Além das atrações históricas, a capital estoniana propicia ao turista a chance de comprar bebidas a preços bem mais em conta do que os cobrados na Escandinávia. Tallinn é uma zona franca. Perto do porto, onde atracam as embarcações vindas da Finlândia e da Suécia, funcionam galpões que ocupam até mais de um quarteirão, repletos de garrafas de uísque, vodka, cerveja e até a nossa cachaça.
O conselho ao turista que chega a Tallinn pelo mar é caminhar até o centro histórico, circular por ladeiras e ruelas, entrar em igrejas, apreciar os sobrados, torres e muralhas. Na Praça Rakeoja, há, junto à prefeitura, um lugar escondido e raro. Uma portinha numa edificação secular esconde um ambiente escuro, onde mulheres de touca branca mexem panelas e enchem canecões.
É um restaurante rústico que serve sopa, perna de porco assada, pepinos em conserva e linguiças no espeto. Para beber, espessa cerveja artesanal. Não há talheres. A perna suína é devorada na mão, à moda da Idade Média. A sopa é sorvida diretamente na cumbuca. O restaurante chama-se III Draakon. É muito diferente do que, certamente, você está acostumado.