AMAERJ | 28 de fevereiro de 2019 16:22

Aparelhos quebrados no IML impedem paisagista de fazer exame

Elaine Caparroz chega ao IML acompanhada do advogado Foto: Célia Costa

Após passar três horas no Instituto Médico Legal (IML), onde faria exame de corpo de delito, a paisagista Elaine Caparroz deixou o local criticando a falta de estrutura para o atendimento a vítimas de violência. Agredida há dez dias em seu apartamento pelo lutador de jiu-jítsu Vinicius Batista Serra, Elaine não conseguiu fazer o exame por problemas nos aparelhos do IML. No Podcast da AMAERJ da última semana e em artigo publicado na segunda-feira (25) no “Estadão”, a presidente da Associação, Renata Gil, alertou para este quadro precário que afeta diretamente a investigação dos feminicídios.

“Pelo menos no Estado do Rio, as condições de trabalho dos agentes das 12 unidades da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) da Polícia Civil são as piores possíveis. Qual vítima de violência doméstica se sente confortável em depor em um ambiente imundo, tendo que lembrar com detalhes os momentos terríveis pelos quais passou? E mais: expor sua intimidade a policiais que, por mais preocupados que estejam em bem atendê-la, também são afetados pelo abandono administrativo ao redor”, ressaltou Renata Gil, no artigo.

“Os magistrados estão muito preocupados com este quadro, que já é antigo. Delegados e agentes contam a eles que, se não pagarem do próprio bolso despesas simples, as unidades acabarão por fechar. Há Delegacias de Atendimento à Mulher em que os banheiros estão entupidos, onde ratos e baratas proliferam. Muitas vezes falta até papel higiênico. A precariedade é absoluta”, destacou.

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Elaine Caparroz disse que, enquanto esteve no IML, nove mulheres vítimas de agressões passaram pelo local para fazer o exame. “Estou chocada porque vim aqui fazer os exames e pude verificar que os aparelhos não funcionam. Fico emocionada ao pensar na quantidade de mulheres que passaram pelo horror que passei e não têm a possibilidade de receber um acolhimento, um tratamento digno e decente, nem mesmo aqui. Ainda bem que trouxe todos os exames que fiz no hospital Casa de Portugal”, afirmou a paisagista.

Para a presidente da AMAERJ, a vítima de agressões não pode ser atendida de qualquer maneira. “Seu caso requer atenção desdobrada, o policial deve estar preparado para prestar-lhe um atendimento digno. O problema está naqueles episódios que não chegam ao conhecimento da sociedade. Às vezes, nem sequer, ao Judiciário, já que as vítimas, intimidadas, desistem da queixa ao perceber as carências do distrito policial onde deveriam ser bem amparadas e orientadas.”