Em artigo publicado neste domingo (27) no jornal “O Globo”, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo, discute os casos de violência entre torcidas de futebol, como os ocorridos durante as fases finais do Campeonato Carioca de 2023 entre flamenguistas e vascaínos.
O magistrado destacou a importância da colaboração dos três Poderes e dos clubes de futebol na busca de “uma atitude prudente. Medidas de inteligência podem combater essas ações violentas.”
Leia a íntegra do artigo:
Não se pode calar a alegria de um torcedor
É de extrema relevância a participação dos clubes na publicação dos nomes de integrantes que causaram qualquer forma de dano em dias de jogos
A expressão de grandes paixões não pode sucumbir por causa da violência de alguns bárbaros. Portanto é inadmissível que uma torcida apaixonada pelo seu time seja impedida de frequentar um estádio por causa da ação de 200 infratores mal-intencionados. Ações violentas não podem zombar da alegria de um torcedor que já enfrenta muitas crises no seu dia a dia.
Uma atitude prudente deve ser adotada. Medidas de inteligência podem combater essas ações violentas. É de extrema relevância a participação dos clubes na publicação dos nomes de integrantes que causaram qualquer forma de dano em dias de jogos. Com essa ampla divulgação, iniciamos a resolução desse problema. Tratar o assunto com inteligência nos permitirá evitar despesas ao Estado, que já está sufocado por tantas demandas.
Suponhamos, por mais absurdo que seja, a proibição de torcidas em jogos como principal solução: estaríamos realmente a selar o fim do sangue humano espalhado nas ruas e nos estádios? Acredito que podemos propor outros argumentos mais bem fundamentados para construir um plano real para o combate à violência nos estádios. Alhures, o crime organizado é combatido na origem e qualificado como tal, como fizeram na Inglaterra. Uma minoria não pode impedir a liberdade da maioria.
Os times Vasco e Flamengo se enfrentaram três vezes nos últimos dias. O primeiro jogo entre eles teve uma vergonhosa repercussão mundial. Como já se disse amiúde, a tragédia mostrada para o mundo inteiro faz com que todos tenham perdas e sofram danos. O futebol é entretenimento, e as empresas deveriam investir estrategicamente nesse ramo, impondo regras para aproveitar a força do esporte mais adorável do Brasil, que pode ser considerado a pátria das chuteiras.
Quando ressaltamos esses pontos referentes à violência nos estádios e o que podemos fazer para mudar esse rumo, estamos pensando na sociedade que clama por segurança. A atuação do Judiciário em conjunto com os poderes Executivo e Legislativo é pertinente para um trabalho preventivo. A liberdade de expressão permite que cada um expresse seus sentimentos e sensações. O estádio é o cenário dessa exteriorização do sentimento humano. Sabemos que o torcedor ultrapassa alguns limites que não podem ser transpostos, como os que dizem respeito a racismo, homofobia e tantos outros. Mensurar a pena para a punição de torcedores faz parte do Poder Judiciário, e não vamos nos eximir dessa ação. Mas devemos refletir que nem sempre o que se estabelece é a solução ideal. O Estado tem de agir rápido para a paz voltar, como em tempos idos, no estádio admirado no mundo inteiro, para recebermos brasileiros e estrangeiros durante o Campeonato Brasileiro.
*Ricardo Cardozo é presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
Leia também: Seminário do IAB debaterá nesta terça-feira (28) o combate à violência de gênero
Juíza Simone Lopes da Costa é eleita para integrar o Cogen
Desembargador João Ziraldo Maia assume TRE com defesa da democracia