O navegador Amyr Klink abriu nesta sexta-feira (10) o 1º Encontro Estadual de Magistrados. Com histórias inspiradoras, ele falou sobre a decisão de ficar encalhado na Antártica, há 27 anos. Ele criou um barco para ficar preso sozinho, de propósito, na geleira por longos sete meses ‘sem vizinho chato e contas para pagar’. O planejamento deu certo, Klink chegou no local, em 1989, e apenas esperou o gelo tomar conta do mar e de sua embarcação. Preso e sem chances de voltar, ele descobriu qual seria a maior dificuldade da aventura.
“Imaginei que a pior coisa poderia ser o gelo, o frio ou a solidão. Mas o pior é a quantidade de coisas para fazer. A vida em sociedade é muito fácil. Lá, eu sempre tinha que fazer tudo: água, comida e faxina, o dia inteiro. Se demorasse muito, tudo congelava de novo. Fiquei sete meses encalhado na Antártica e não tinha tempo para fazer mais nada. Em qualquer lugar do mundo, teremos que fazer as mesmas coisas diariamente. Foi um ensinamento”, afirmou.
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A paixão de Klink pelas navegações começou cedo. Amante do mar desde criança, quando morava em Paraty, ele leu no jornal a história de dois norte-americanos que planejaram cruzar o Atlântico a remo, mas morreram durante o percurso. O barco, no entanto, chegou corretamente no destino final, a Escócia. Surpreso, Klink nunca tirou a história da cabeça e começou a estudar rotas e criar embarcações.
Anos depois, o navegador foi o primeiro a atravessar o Atlântico Sul de remo – feito por ele próprio – entre a Namíbia e a Bahia. “O dia da chegada foi o mais feliz da minha vida. Chegaria vivo ou morto. Dá um baita medo, mas o ser humano gosta de medo. É um prazer indescritível cumprir uma meta”, disse ele, que perdeu 25kg nos 100 dias de viagem.
A partir de então, foram mais de 40 navegações para a Antártica, sem qualquer incidente. “Adorava ver fotos e sonhava conhecer o continente e os pinguins. Mas, o melhor é estar nas fotos. Fui 15 vezes sozinho, hoje vou com minha mulher e amigos. Em tempos de intolerância e egoísmo, continuo acreditando que sempre é melhor fazer o que gostamos junto de quem gostamos”, disse ele, citando um provérbio africano: ‘Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado’.
Depois da conversa com os magistrados, Klink tirou dezenas de fotos, respondeu a perguntas e, agradecido, fez questão de levar para casa o banner do evento, com sua foto, como recordação. “Foi uma alegria participar do Encontro de Magistrados. Os juízes têm um papel preponderante de protagonismo para a democracia nacional.”