O jornal “O Dia” publicou no sábado (7) o artigo “Homens ricos também matam”, de autoria do desembargador Wagner Cinelli, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).
O magistrado é Cinelli é autor dos livros “Sobre ela: uma história de violência” e “Metendo a colher”. Dirigiu o premiado curta-metragem de animação “Sobre Ela”.
Confira a íntegra do artigo.
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Homens ricos também matam
Peter Chadwick e Quee Choo tinham três filhos e moravam em Newport Beach, na Califórnia. Era uma família como outra qualquer, até que ocorreu uma tragédia. Mr. Chadwick matou a esposa, desfez-se do cadáver em uma lixeira e fugiu para o México. Passados quase dez anos, o julgamento ocorreu no último dia 9 de fevereiro e o réu foi condenado a uma pena de prisão perpétua, com possibilidade de livramento condicional após cumprir pelo menos 15 anos.
Homens abusivos existem em toda parte. Mas uma questão por vezes levantada é se essas agressões contra as mulheres acontecem em todas as classes sociais. A história de Peter indica que sim. Afinal, ele é milionário e, infelizmente, não está sozinho na lista de magnatas feminicidas.
Alun Phillips, herdeiro de grande fortuna, afogou a esposa Nadine na banheira de sua residência em Fulham, Londres. Outro caso emblemático na capital inglesa foi o do multimilionário Robert Ekaireb, condenado à pena de prisão perpétua pelo assassinato da esposa grávida. Em Paris, o empresário Ian Griffin espancou a namorada Kinga Legg até a morte em um quarto de hotel cinco estrelas. Em Sidney, Andrew Kalajzich, empresário bem-sucedido do ramo hoteleiro, foi condenado a 25 anos de reclusão pela morte da esposa.
O alto executivo Fernando Farré desferiu mais de 74 golpes de faca em sua mulher Claudia Schaefer, de quem estava se divorciando, em sua casa no Martindale Country Club, condomínio luxuoso na periferia de Buenos Aires. O milionário português Carlos Pinto tentou assassinar a esposa Eliza e o palco da trama foi o exclusivo hotel NH Palácio de Vigo, na Espanha.
A violência contra a mulher ocorre em todos os lugares e, como visto nos exemplos, as pessoas mais abastadas não estão excluídas dessa estatística. Em verdade, se formos mergulhar nos enredos, os casos destacados acima costumam trazer elementos que não fazem parte da vida dos financeiramente desfavorecidos, como disputa por bens em partilha de divórcio. Alguns desses endinheirados, para aumentar a surpresa geral, matam o cônjuge e ainda tentam receber a indenização do seguro de vida.
Entretanto, é consenso que, embora a violência de gênero ocorra em todas as classes, as mulheres em maior desvantagem social, notadamente as que estão expostas à pobreza e sem acesso à educação, estão mais sujeitas ao jugo dos homens abusivos que entram em suas vidas.
Vencer os obstáculos que favorecem essa violência é um desafio e o caminho passa pela educação, que abre portas para oportunidades de trabalho, refletindo no status social e econômico, bem como no empoderamento feminino. Seguir essa diretriz permitirá que um dia tenhamos uma sociedade em que a igualdade não esteja apenas proclamada em suas leis escritas, mas realizada no cotidiano de todas as pessoas. Como disse Malala Yousafzai, ativista e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz: “Tudo que quero é educação e aí não tenho medo de ninguém”.
Quanto às vítimas que já têm alto nível de escolaridade, que costuma ser o caso das pessoas ricas, o principal desestímulo aos seus agressores deve vir mesmo do último recurso de que a sociedade dispõe, que é o malhete e a prisão.