Artigos de Magistrados | 19 de janeiro de 2022 14:01

ConJur publica mais um artigo do desembargador Wagner Cinelli

Desembargador Wagner Cinelli | Foto: Matheus Salomão

O site Consultor Jurídico (ConJur) publicou, nesta terça-feira (18), o artigo “A masculinidade tóxica e a violência contra a mulher”. De autoria do desembargador do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) Wagner Cinelli, o texto apresenta traços de comportamento agressivo de homens contra mulheres.

Cinelli é autor do livro “Sobre ela: uma história de violência” e diretor do premiado curta-metragem de animação “Sobre Ela”. Confira o artigo na íntegra.

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A masculinidade tóxica e a violência contra a mulher

“Se não vai ser minha, não vai ser de ninguém”
(áudio que o ex-marido enviou para Fernanda Quadros, de 34 anos. A professora foi morta na porta de casa, em Piraquara (PR), em 1º de dezembro de 2021. O ex-marido teve a prisão decretada e está foragido)

A cultura machista ainda tem forte presença em nossa sociedade, revelando-se em várias de nossas interações sociais. Está nas músicas que enaltecem a agressão à mulher, nas piadas que a inferiorizam e nos obstáculos que dificultam ou impedem sua caminhada profissional.

Todos respiramos a cultura, que por osmose nos entranha, cabendo-nos questionar e expurgar os símbolos machistas que nos chegam e, em um movimento coletivo, modificar conceitos e ações que respaldam desigualdades, dominação e violência.

Aquele cuja personalidade traz características do macho dominador é um grande problema e, exatamente por isso, entendê-lo pode ser a chave para a redução dessa violência que atinge seletivamente a mulher.

Egocêntrico e autoritário, considera sua vontade como lei, exige obediência irrestrita, mesmo aos seus disparates mais radicais, impondo medo aos que estão em sua esfera de controle.

Esse macho dominador, quando rejeitado, sente-se atacado em sua, por assim dizer, supremacia. Se essa rejeição parte da namorada ou companheira, ser que em sua equivocada concepção lhe pertence, abastece-se do combustível ódio e exercita sua violência. Afinal, como ela poderia terminar com ele? Nesse entender obtuso, é ele que, se quiser, concede alforria. Se não for isso, arvora-se no direito de punir, como se tivesse esse direito.

O raciocínio traçado, ainda que em linhas gerais, pode ajudar a compreender o que está por trás do comportamento de tantos homens que, diante da rejeição, sentem-se feridos e agem com brutalidade. Na outra ponta, que é bem frágil, aquelas que com eles um dia se relacionaram, para desgosto delas.

Esse comportamento agressivo do macho rejeitado pode gerar várias consequências: lesões, sequelas ou mesmo o silêncio eterno da vítima.

O novo ano começou e não nos faltam manchetes de feminicidas de ex. Para agravar essas tragédias, esses criminosos não se importam de fazer dos filhos as testemunhas de seu ritual macabro.

São homens dominadores e abusivos, para os quais a rejeição não é uma opção. Para eles, tem valor uma frase infeliz, mas já tão repetida, igual à do áudio recebido por Fernanda Quadros: “Se não vai ser minha, não vai ser de ninguém”.

É de fato um pensamento prepotente e pior ainda é concretizá-lo. Ao fazê-lo, o desfecho usualmente observado para o autor do crime é suicídio, prisão ou ficar foragido. E qualquer um deles expõe o mesmo traço a respeito desse macho: a covardia.