Em parecer jurídico elaborado a pedido da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), o ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Ayres Britto aponta inconstitucionalidades em dispositivos da Lei de Abuso de Autoridade (13.869/2019). O documento foi entregue ao ministro Celso de Mello, relator da ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 6.236, ajuizada pela AMB no STF em 28 de setembro.
De acordo com Ayres Britto, a lei inibe a prestação jurisdicional e a independência do magistrado, que se vê criminalizado por uma interpretação dada à norma geral. “Nenhum diploma jurídico infraconstitucional pode ter a pretensão de ditar as coordenadas mentais do juiz-juiz, ou instância judicante colegiada, para conhecer do descritor e do prescritor dessa ou daquela norma geral a aplicar por forma tipicamente jurisdicional”, diz ele no parecer.
“É exatamente essa autonomia de ordem técnica (autonomia de quem presta a jurisdição como atividade estatal-finalística ou por definição) que assiste a todo e qualquer magistrado. Seja qual for o grau de sua jurisdição. Agindo solitariamente ou então como integrante desse ou daquele tribunal judiciário”, explica o ministro.
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Para Ayres Britto, essa autonomia técnica imprime ganhos de funcionalidade sistêmica ou plenitude de sentido às prerrogativas institucionais da independência, do autogoverno e da autonomia administrativa-financeira do Poder Judiciário.
De acordo com o parecer, são inconstitucionais (material e formal) os seguintes dispositivos da lei:
Em relação ao artigo 43, ressalta o parecer que “o tema se inscreve nos concomitantes princípios da reserva de Constituição e da Lei Complementar veiculadora do Estatuto da Magistratura. Cabendo à Lei da Advocacia aportar outros meios de conciliar a aplicabilidade dos dois orgânicos diplomas, porém sem criminalizar jamais a interpretação judicial dessa ou daquela normal geral (o inconcebível crime de hermenêutica)”.
O documento foi apresentado em reunião com a vice-presidente de Direitos Humanos da AMB, Julianne Marques, e o assessor da Presidência da entidade, Levine Raja, em Brasília.
(Com informações da AMB)