O site Monitor Mercantil publicou, na segunda-feira (7), o artigo “Preconceito de gênero nos processos seletivos”. De autoria do desembargador do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) Wagner Cinelli, o texto apresenta as diferentes situações que homens e mulheres passam durante as avaliações para cargos profissionais.
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O magistrado destaca no artigo haver “relatos de mulheres que, em entrevista de emprego ou prova oral de concurso, deparam-se com perguntas de ordem pessoal e que não são formuladas aos candidatos do sexo oposto. São indagações como: ‘É casada?’, ‘Qual é a profissão de seu marido?’ e ‘Tem planos de ter filhos logo?'”.
Leia a baixo o artigo na íntegra.
Preconceito de gênero nos processos seletivos
Mulheres deparam-se com perguntas que não são feitas ao sexo oposto
A presença feminina no mercado de trabalho vem aumentando progressivamente, mas sua taxa de participação na força de trabalho global ainda está acanhada. Segundo a Organização Mundial do Trabalho, esse índice é de 47%, enquanto para os homens é de 72%, disparidade essa que carece de redução.
Um aspecto da questão, que é o primeiro gargalo, chama-se recrutamento e seleção. Vejamos como uma orquestra lidou com o problema e alterou a forma de contratar seus músicos.
A Orquestra Filarmônica de Nova York, fundada no século 19, contava com poucas mulheres em seus quadros, até que nos anos 70 adotou a audição cega. Um biombo passou a ser colocado entre o comitê de seleção e o candidato instrumentista para que a performance musical pudesse ser ouvida sem que o postulante fosse visto. O resultado foi sentido na década de 80, quando foram contratadas mais mulheres do que homens, e atualmente elas correspondem a quase metade da orquestra.
Temos uma evidência, no caso da orquestra, de que os homens eram favorecidos. Ali, um biombo foi eficiente para se vencer essa parcialidade nas contratações. Mas nem sempre a solução será tão simples assim.
Há relatos de mulheres que, em entrevista de emprego ou prova oral de concurso, deparam-se com perguntas de ordem pessoal e que não são formuladas aos candidatos do sexo oposto. São indagações como: “É casada?”, “Qual é a profissão de seu marido?” e “Tem planos de ter filhos logo?”.
Caso emblemático ocorreu em certame para a magistratura paulista em 2012. Candidatos reprovados recorreram ao Conselho Nacional de Justiça alegando que o exame oral teria se dado de forma secreta e com perguntas de natureza pessoal. Uma delas teria sido: “Mas a senhora está grávida. Não acha que já começaria a carreira como um estorvo para o Poder Judiciário?”.
De fato, os obstáculos culturais são muitos. Não raro, mulheres, especialmente as mais jovens, são vistas como potenciais grávidas, desagradando superiores pelo “risco” de virem a gozar da licença-maternidade e com isso se afastarem do trabalho por alguns meses.
Aspectos da vida pessoal das candidatas submetidas a processo seletivo não devem importar ao examinador imparcial. A candidata, que já está submetida à pressão da disputa, é colocada em uma situação de desconforto diante da pergunta inconsequente, sendo improvável que desafie o examinador que, naquele momento, detém um poder que poderá influenciar sua vida. Nesse contexto, um bom slogan para uma campanha seria #minhavidapessoalnaoimporta
O preconceito de gênero está entranhado nos diversos aspectos da vida social, inclusive no acesso das mulheres ao mercado de trabalho. Portanto, precisamos falar continuamente sobre isso para que mais pessoas possam compreender a gravidade do problema e assim construirmos uma sociedade com menos desigualdades e na qual prevaleça a meritocracia.
Não é tarefa fácil. Mas vale lembrar que, em algum lugar do passado, o aumento da participação feminina na Filarmônica de Nova York parecia ser impossível.