Quarta de 11 filhos de dona Josepha Ferreira da Costa, Ivone Ferreira Caetano trabalhou como vendedora de alho e manicure antes de se tornar a primeira juíza e desembargadora negra do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Ela foi a inspiração para a criação da Medalha Rosa Negra pela OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Rio de Janeiro) . A primeira cerimônia do prêmio ocorreu nesta quinta-feira (13), na véspera do dia em que a magistrada aposentada completa 75 anos.
“Nunca sonhei ser referência para uma medalha. É mais um acontecimento na minha vida que não sonhei e acho muito relevante não só para mim, mas para todo o segmento”, disse ela, antes da cerimônia.
Mais de 150 pessoas estiveram presentes. Entre eles, a desembargadora eleitoral do TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) Glória Heloiza Lima e os desembargadores do TJ-RJ Antônio Izaías Abreu, Flávio Horta e Maria Aglaé Tedesco Vilardo.
Em discurso, o presidente da OAB-RJ, Luciano Bandeira, afirmou que “a advocacia enxerga na doutora Ivone Caetano a construção de um ideal, um símbolo para todas as meninas negras que todos os dias enfrentam preconceito e dificuldades do seu caminhar. É um símbolo de esperança, de que vocês vão romper barreiras e fronteiras de uma sociedade efetivamente racista. Você é um símbolo, e é nossa obrigação cuidar e fazer com que se propague o que você representa”.
Emocionada, Ivone Caetano fez breve discurso em que agradeceu a presença de todos e contou a origem de sua motivação. “Esta senhora não fez mais do que a obrigação. Primeiro, porque foi educada por uma mulher muito digna, semianalfabeta, que nos ensinou tudo o que sabemos. Foi esta mulher que me fortaleceu. Aceito os elogios e as palavras, mas nada é só meu. Tive apoio de duas famílias [parental e religiosa] e um apoio sem precedentes do meu marido”, destacou ela.
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A magistrada aposentada entregou um Manifesto de Agradecimento ao presidente da OAB-RJ e ao presidente da OAB Nacional, Felipe Santa Cruz. A professora e historiadora Claudia Vitalino também recebeu o prêmio, representando as entidades que atuam pelo fortalecimento de candidaturas negras, pelo Quinto Constitucional da OAB, aos conselhos e tribunais.
Foram homenageados, ainda, Ana Tereza Basílio, vice-presidente da OAB-RJ; Rita Cortez, presidente do IAB (Instituto dos Advogados Brasileiros); a Educafro, representada pelo juiz federal William Douglas; desembargador Gilberto Fernandes (homenagem póstuma), representado pela viúva, Maria José Alves Fernandes, e parentes; a advogada e secretária-geral da Diretoria de Mulheres da OAB-RJ, Flávia Ribeiro; o babalorixá Nelson Juçuanã; e a juíza do TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região) Mylene Pereira Ramos. A medalha foi entregue previamente a Humberto Adami, presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra do Brasil do Conselho Federal da OAB.
Rosa Negra
Originalmente, a Comenda das Rosas Negras foi criada em 2005 pelo FEMN-RJ (Fórum Estadual de Mulheres Negras). A premiação tinha como objetivo homenagear quem atua no enfrentamento ao racismo.
Em 5 de setembro deste ano, o Conselho Pleno da OAB-RJ aprovou a incorporação da Medalha de Honra Des. Ivone Ferreira Caetano, que recebeu a alcunha de Rosa Negra. Até oito pessoas serão premiadas por ano, em cerimônias realizadas em agosto, Mês da Advocacia. Os premiados serão advogados, lideranças da sociedade civil e autoridades públicas que se destacam na condução de importantes trabalhos em garantia de direitos civis fundamentais para a população negra e minorias.
As 11 pétalas da rosa representam os coletivos que apoiaram a criação da comenda: Cedine (Conselho Estadual do Direito do Negro); Fórum Estadual de Mulheres Negras; Unegro Nacional (União de Negros pela Igualdade); CEN (Coletivo de Entidades Negras); Criola (organização de defesa e promoção dos direitos das mulheres negras); ABMCJ-RJ (Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica); Amazoeste-RJ (Associação das Mulheres Advogadas da Zona Oeste do Rio de Janeiro); Cenarab (Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira); Conen (Coordenação Nacional de Entidade Negras); Educafro-RJ (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes); e Cetrab (Centro de Tradições Afro-brasileiras).