Sete anos após serem adotados por um casal na Itália, dois irmãos brasileiros voltaram ao país e encontraram a juíza que deu um novo destino às suas vidas. Mônica Labuto (3ª Vara da Infância, Juventude e Idoso) encontrou Mateus e Maicon no Rio de Janeiro, em uma viagem de férias da família. “Foi ótimo encontrá-los e vê-los totalmente adaptados”, disse a magistrada.
A adoção ocorreu em 2011, quando eles tinham 14 e 6 anos. Este foi o segundo encontro deles – no primeiro, há três anos, Mateus veio ao Rio comemorar seus 18 anos. Nesta viagem, vai celebrar 21 anos na segunda-feira (17). “Mantenho contato com a grande maioria das crianças. Algumas não querem, e eu respeito. Conversamos pelo Messenger [serviço de mensagens do Facebook], e tenho alguns até no Whatsapp”, contou ela.
No jantar, uma mistura da culinária brasileira e italiana, na filial do Pizza Hut, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Enquanto conversavam e degustavam a massa, provaram dois sabores característicos do Brasil. Beberam refrigerante de guaraná – “o Maicon ama e aproveitou para tomar aqui, já que não tem na Itália” – e comeram, de sobremesa, pizza de brigadeiro. “Eles acham esquisito porque lá não tem. A pizza de brigadeiro é bem brasileira. O mais novo gostou tanto que pediu para levar para casa o que sobrou”, disse, rindo.
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O papo foi uma mistura linguística: falaram em italiano, português e até inglês. A vivência em Roma os fez perder um pouco a língua-mãe, mas passaram a entender muito bem o italiano e até alguns dialetos locais. “Maicon teve uma adaptação escolar mais fácil por ser menor. Como o Mateus já era adolescente, isso influenciou o ensino. Ele terminou o colégio e hoje trabalha com o pai”, disse a magistrada.
Mateus contou que teve que cumprir o serviço militar obrigatório na Embaixada do Brasil em Roma até este ano, quando conseguiu a dispensa. Os irmãos falaram de suas viagens pela Itália durante as férias – como Cinque Terre e Sardenha – e de sua rotina.
Nas histórias que ouviu, a magistrada percebeu como é a relação entre os pais e os filhos e como a adoção pode transformar vidas. “Eles têm um ótimo relacionamento. É um casal maravilhoso, que não esconde a história deles, e os faz saber suas origens. Creio que eles os incentivam a vir aqui para não perder os laços. Antes, eles eram crianças sem qualquer opção. Agora, têm outro padrão de vida. Foi interessante saber que as adoções internacionais podem dar certo”, comentou ela.
Perfil da adoção internacional
Mônica Labuto explicou que adoções internacionais acontecem quando as crianças não encontram adotantes no Brasil – ou seja, com faixa etária maior. “Há sete anos, vi casos de adoções com crianças a partir de 9 anos. Hoje, uma criança dessa idade já é adotada no Brasil”, explicou.
Outra dificuldade é na adoção de grupos grande de irmãos (a partir de cinco menores). Segundo a juíza, quando há pelo menos dois irmãos com idades altas, fica mais difícil adotá-los. Ela contou um caso recente: “fiz a adoção de oito irmãos, que ficaram com quatro famílias de Nápoles. A intenção, nesses casos de adoção, é preservar a relação deles. Se houver uma proposta de adoção do grupo inteiro, essa prevalece em relação à feita no Brasil”.
Veja aqui informações do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sobre adoção internacional.
*Os nomes são fictícios