O jornal “Monitor Mercantil” publicou o artigo “Laço Branco: homens contra a violência de gênero”, escrito pelo desembargador Wagner Cinelli, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O texto foi divulgado nesta quinta-feira (7).
O desembargador Wagner Cinelli é diretor Cultural da AMAERJ e presidente dos Comitês de Promoção da Igualdade de Gênero e de Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual e da Discriminação do TJ-RJ (COGEN-1º Grau e COGEN-2º Grau). Confira o artigo:
Laço Branco: homens contra a violência de gênero
Quebec, 6 de dezembro de 1989. Um homem de 25 anos entrou armado na Escola Politécnica de Montreal para executar seu plano de matar alunas de engenharia. Invadiu uma sala de aula e atirou em nove estudantes. Na sequência, procurou por mais mulheres para continuar a matança enquanto berrava “eu odeio feministas”.
Conhecida como o “Massacre de Montreal”, essa chacina deixou o saldo de 14 vítimas fatais, todas mulheres, e 14 pessoas feridas, das quais 10 eram mulheres e 4 eram homens. Acrescente-se que o atirador se matou, deixando uma carta na qual reafirmava seu ódio e uma lista com 19 feministas que desejava eliminar.
O nome do autor desses fatos não será aqui mencionado. Sabe-se que tentou, sem sucesso, ingressar duas vezes como aluno naquela instituição de ensino. Especula-se que poderia ter sido impactado na infância pelo pai violento ou pelo convívio reduzido com a mãe em função de ela, enfermeira, se dedicar bastante ao trabalho.
Podemos conjecturar sobre os motivos que contribuíram para que aquele jovem tivesse nutrido tanto ódio às mulheres ou, como ele gritou e escreveu, “ódio às feministas”. Contudo, essa investigação não é o propósito deste artigo. O objetivo é tratar da importância da participação dos homens nas questões de gênero e um bom exemplo vem do mesmo Canadá, inspirado no mesmo e trágico episódio.
Em 1991, um grupo de homens da Província de Ontário criou a White Ribbon Campaign (Campanha do Laço Branco) para se juntar às mulheres contra a violência de gênero e a favor do empoderamento feminino. Esse movimento cresceu, está presente em dezenas de países, inclusive no Brasil, e conta com o apoio da Organização das Nações Unidas.
O Parlamento do Canadá, naquele mesmo ano e por conta do ocorrido na Escola Politécnica, criou o dia nacional de ação contra a violência de gênero, conhecido como o Dia do Laço Branco, que é o 6 de dezembro. O Legislativo brasileiro, também por influência do “Massacre de Montreal” e com base em convenções internacionais (CEDAW e Convenção de Belém do Pará), instituiu essa mesma data como Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres (Lei 11.489/2007).
O Laço Branco demonstra que há homens contrários à violência de gênero, violência essa que vem do machismo e que já causou – e continua causando – tanto mal. A pauta dessa campanha, marcada pelo 6 de dezembro, é a de homens pelo fim dessa brutalidade.
A amplificação dessa pauta é fundamental para o encurtamento da distância entre as leis que protegem as mulheres e a sua efetividade. Amplificar para que mais homens engrossem o front contra essa violência de modo que as pessoas, homens e mulheres, juntos e em maior número, caminhem para a modificação dessa realidade.
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