A invasão do Fórum de Bangu — com a morte de um menino de oito anos e um PM quinta-feira — detonou uma crise no Judiciário, sem poupar o comportamento de membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Ordem dos Advogados Brasil. A ação dos bandidos foi tratada em carta pela presidenta do Tribunal de Justiça, Leila Mariano, como atentado terrorista, uma questão de segurança pública.
No e-mail enviado aos magistrados que atuam na área criminal — ao qual o DIA teve acesso — convocando-os ontem para uma reunião, ela alegou que é preciso ainda “vencer preconceitos, desde a resistência histórica” de promotores, defensores e advogados de submeterem a “controle de entrada”.
Leila também criticou os colegas de toga, chamando-os de “paternalistas” por permitir, mesmo advertidos por órgãos de segurança, o contato de presos com parentes em audiências. “Isso é um absurdo. O preso perde o direito à liberdade, mas não o direito de ter afeto”, avaliou o desembargador Siro Darlan, que atua na área criminal. Leila sustentou, no entanto, que “já foi encontrado (sic) chips de celulares em empada entregue a um preso por seus familiares”.
O encontro da presidenta com os magistrados na sede do tribunal, no Centro, começou às 10h, e foi a portas fechadas. O maior embate foi quando Leila defendeu o uso da videoconferência na maioria das audiências. Ela afirmou que muitos magistrados e advogados rejeitam o uso da tecnologia.
“Não conseguir cuidar dos seus presos é abrir a falência do Estado. Uma audiência é pública”, atacou o juiz João Batista Damasceno. A presidenta atacou a falta de infraestrutura da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) com relação a substituição de viaturas velhas por novas. Promessa feita em fevereiro, mas não cumprida.
Nesta quarta-feira, as audiências nas varas criminais de Bangu foram adiadas. Isso porque, até às 16h30, a Seap não havia apresentado os 14 réus à Justiça. Em nota, a secretaria informou que houve um problema com a viatura que seria utilizada para o transporte dos presos. Após o conserto, as audiências tinham sido remarcadas.
Bandidos em prédio errado
As câmeras de segurança do Fórum de Bangu mostram que a ação dos bandidos foi mal planejada. Eles entram primeiro em um prédio em obras e, quando encontraram o local correto, bateram de porta em porta em busca da carceragem para resgatar os comparsas. Na invasão, ocorrida no dia 31, o menino Kayo da Silva Costa, de 8 anos, foi morto na rua, e o sargento PM Alexandre Oliveira morreu no fórum.
Fonte: O Dia