O TJ-RJ vai ampliar o atendimento a crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de abuso sexual, de violência física ou psicológica, com a criação de mais seis Salas de Depoimento Especial em pontos estratégicos do Estado, para dar suporte a todas as comarcas.
Pioneiro da iniciativa desde 2012 e com três salas em funcionamento, o Tribunal do Rio segue a determinação da Lei Federal 13.431, sancionada em abril de 2017, que torna o Depoimento Especial obrigatório no Brasil. Pela legislação, somente órgãos autorizados e com profissionais especializados podem ouvir as vítimas.
Leia também: Vanessa Cavalieri é convidada por Cármen Lúcia para atuar no CNJ
Judiciário não pode ser visto como único meio de solução de conflitos, diz corregedor
AMB encerra pesquisa sobre magistratura em 30 de junho
A ampliação dos novos locais foi anunciada nesta segunda-feira (11), pelo corregedor-geral da Justiça, Claudio de Mello Tavares, na abertura do “Simpósio sobre a Prática do Depoimento Especial – Repercussões da Lei 13.431/2017”.
O seminário, que termina nesta terça-feira (12), acontece no auditório Desembargador José Navega Cretton (Av. Erasmo Braga 115, 7º andar da Lâmina I). Participam juízes, promotores, defensores públicos e psicólogos em debates sobre técnicas e experiências em Depoimento Especial.
As salas serão aparelhadas especialmente para os depoimentos e com estrutura especial, a fim de evitar que as vítimas menores de idade fiquem em contato com os réus nos processos. O local é decorado para que a criança ou adolescente se sinta à vontade, sem se distrair a ponto de não dialogar com o entrevistador. O tribunal tem promovido cursos especializados para que assistentes sociais, comissários de Justiça e psicólogos se tornem novos entrevistadores.
Depoimento Especial
“Na sociedade atual, não podemos mais conceber que crianças e adolescentes sejam vítimas de violência, negligência, tratamento desumano, enfim, que seus direitos fundamentais sejam violados em qualquer esfera”, disse o corregedor, em defesa do direito da criança ser ouvida em processos judiciais ou administrativos. O direito é estabelecido por convenção internacional e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca) na proteção da infância e da adolescência.
Tavares destacou que, na maioria dos casos, o depoimento da vítima é a única prova possível de ser produzida e a forma mais eficaz para a responsabilização do agressor. O depoimento da criança ou do adolescente conduzido por especialistas são transmitidos ao vivo para a sala de audiência, contribuindo para a maior segurança do juiz em suas decisões.
O juiz-auxiliar da Presidência do TJ-RJ Marcelo Oliveira lembrou que o Judiciário Fluminense foi um dos primeiros a criar as salas especiais para o depoimento. Ele mencionou que a experiência foi implementada pelo juiz Sandro Pitthan, da 1ª Vara de Família de Madureira, seguindo o exemplo da experiência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, pioneiro através da iniciativa do desembargador José Antonio Daltoé Cézar.
Marcelo Oliveira acrescentou que o depoimento da criança e do adolescente sob a supervisão de um especialista oferece mais qualidade técnica para o julgador formar a sua convicção.
Para a desembargadora Katya Monnerat (presidente da Comissão Interinstitucional da Criança e do Adolescente), o Depoimento Especial se mostra necessário e maneira positiva de identificar o que aconteceu num processo de violência contra o menor. Ela explicou que, na maioria dos casos, a criança não sabe distinguir a realidade da invenção. “Um questionamento equivocado, sem o auxílio de um técnico, pode levar a criança a se confundir.”
A juíza Vanessa Cavalieri (titular da Vara da Infância e da Juventude da Capital), disse que, nos processos sob a sua jurisdição, existem 306 crianças vítimas de estupro. A Vara vai ganhar uma sala exclusiva para viabilizar o depoimento dessas vítimas. Segundo ela, a sala deve ser vista também na preservação da criança e do adolescente por evitar o contato com o acusado de agressão.
Além do seu trabalho no TJ do Rio, a juíza integra a comissão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a convite da ministra Cármen Lúcia, que vai fiscalizar a instalação das Salas de Depoimento em todo o País.
O juiz-auxiliar da Corregedoria Afonso Henrique Barbosa destacou o cuidado a ser tomado quando se trata do depoimento de pessoas vulneráveis, como é a criança, devendo sempre buscar a sua preservação.
Os painéis do simpósio ainda terão a participação dos juízes Sandro Pithan, Raquel Chrispino, Adriana Ramos de Mello, Vanessa Cavalieri e Sérgio Ribeiro (diretor de Direitos Humanos e Proteção Integral da AMAERJ).
Fonte: TJ-RJ