Notícias | 02 de abril de 2014 09:13

Só a Educação liberta

*Siro Darlan

Mais uma notícia triste quando faz 50 anos um golpe de Estado que prometeu uma revolução pelas armas. O Brasil foi classificado pelo Pisa, órgão internacional de avaliação da Educação entre 44 países de todos os continentes, em 38º lugar. Uma vergonha para qualquer governo, quando Cuba, país pobre e cercado pela tirania de um bloqueio econômico, tem o melhor índice de Educação das Américas, e o Uruguai é o quinto classificado.

A proposta da “Redentora” era evitar a “cubanização” do Brasil. Que lástima, 50 anos de atraso. Continuamos com um povo escravizado pelo analfabetismo e refém dos políticos que se aproveitam disso para implantar a corrupção e a política do estelionato cultural. Enquanto isso, em Cuba, apesar da pobreza, o povo tem dignidade. Não há analfabetos. Todas as crianças e jovens estão nas salas de aula. Há escolas em todos os níveis e faculdades espalhadas por todos os cantos do país.

Interessante ver que mansões que outrora serviam a famílias enriquecidas hoje estão transformadas em centros culturais, escolas e centros de saúde. Muito antes da chegada da Revolução Socialista, Cuba já respirava Educação. Jose Martí, seu herói nacional, dizia que um povo só será liberto através da Educação. A cultura rica de Cuba aparece em todos os lugares. Ha música no ar, teatros espalhados pelas cidades, todo recanto, praças, restaurantes.Há bandas de música, a música alegre cubana. Ouvimos de uma concièrge do Hotel Nacional que os cubanos são iguais aos golfinhos, estão com a água até a boca, mas vivem sorrindo. Até sua religião é de esperança nas santerias majoritárias, mesmo com os templos católicos abertos e funcionando após a visita do Papa João Paulo II.

A Igreja Católica cubana perdeu grande oportunidade de estar do lado do povo e ficou quase sem adeptos. Em 1959, colocou-se do lado da ditadura vigente, e seus templos foram transformados em museus e centros culturais. O Santuário de São Francisco de Assis, opulento templo localizado no Centro de Havana Velha, hoje é um museu com peças riquíssimas em prata e ouro, antes utilizadas nas missas e na sacristia, e uma torre muito alta aberta à visitação. O templo em belíssimo barroco abriga alunos das escolas de música que promovem concertos. Após a vinda de João Paulo II foi autorizada a realização de missas em determinados horários. Com isso a santeria, ou candomblé, passou a ter com os mesmos santos católicos a preferência da população.

Afinal o discurso dos socialistas de Sierra Maestra sempre se assemelhou mais ao de Cristo do que ao dos ditadores, mais assemelhados aos dos hipócritas e fariseus. Vejam o que disse Che, em ‘El socialismo y el nobre en Cuba’: “O verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor. É preciso ter uma grande dose de humanismo, de sentimento de justiça e de verdade para não cair em extremismos dogmáticos, em escolasticismos frios, em isolamento das massas. É preciso lutar para que esse amor à humanidade viva e se transforme em atos concretos que sirvam de exemplo e mobilizem.”

Ora, parece muito com passagens do Evangelho, tais como o maior de todos os mandamentos é amar a Deus e ao próximo como a si mesmo, ou de Paulo, que disse que a fé remove montanhas, ou ainda que prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.

Com essa proposta eleitoreira da ‘pacificação’ das favelas fluminenses, fico pensando se não seria melhor nossos técnicos irem fazer um curso em Cuba para aprender como se pacifica com dignidade e respeito. Que tal, além de importar seus médicos, importar também a segurança cubana?

*Siro Darlan Oliveira, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, é membro da Associação Juízes para a democracia.

Fonte: O Dia