Cultura | 31 de março de 2022 11:18

Revista Fórum: Os primeiros cem anos da Semana de 1922

Movimento Modernista brasileiro aniversaria entre polêmicas

Pintado a óleo, o mural de temáticas musicais do mestre Di Cavalcanti foi inaugurado em 1931 no foyer superior do Teatro João Caetano | Reprodução

Por Sergio Torres

Talvez a mais importante efeméride artístico-cultural do Brasil em 2022, o centenário da história Semana de Arte Moderna de 1922 tem ocupado sites, páginas de jornais e espaços nas emissoras de TV. Há quem aponte o evento como revolucionário nas artes brasileiras. Há aqueles, como o escritor e cronista Ruy Castro, que consideram superestimados os impactos da semana na cultura nacional.

A Semana de Arte Moderna aconteceu no Theatro Municipal de São Paulo nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Houve recitais de poesias, mostras de pintura e escultura, danças, apresentações musicais, palestras variadas.

Em busca de uma arte dita mais brasileira, os participantes da Semana, sob a inspiração de artistas europeus considerados vanguardistas, clamavam por manifestações culturais inovadoras, de cunho social e estética diversa daquele vigente no país até então.

O parnasianismo era um alvo muito evidente dos modernistas de 22. Para resumir, eles preconizavam a morte da arte acadêmica, da poesia gongórica, da literatura romântica praticada no século 19 e nas duas primeiras décadas do século 20.

O Movimento Modernista brasileiro teve como líderes os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade (não são parentes, é bom esclarecer). O pintor Emiliano Di Cavalcanti também foi protagonista, assim como muitos outros colegas de geração.

Os estudiosos do modernismo pátrio listam em livros e enciclopédias algumas das características do movimento: não ao formalismo; repúdio ao academicismo; influência de artes inovadoras, sobretudo da Europa, como o surrealismo, o expressionismo e o cubismo; amálgama de componentes brasileiros e internacionais antitradicionalistas; e experimentos artísticos-culturais.

Mas nem todos consideram a Semana um estouro, como faz crer a cobertura do centenário. Para Ruy Castro, o Rio de Janeiro, e não São Paulo, já era vanguarda bem antes, como afirmou em entrevista em fevereiro à CNN Brasil. No Rio, afirmou Castro, “havia uma vida literária espantosa”. “É contra isso que eu me bato, contra essa ideia que se vendeu de que o país era um grande atraso e que o evento veio nos salvar. Não é verdade”, acrescentou.

Para a pesquisadora Gênese Andrade, em entrevista à BBC News Brasil, “não faz sentido querer desqualificar a Semana de Arte Moderna”. “Sua produção é inegavelmente importante. Caso contrário, não estaríamos aqui, cem anos depois, conversando sobre o legado da Semana de 22”, disse a especialista, doutora em literatura hispanoamericana pela Universidade de São Paulo (USP).

Talvez os dois lados tenham razão. Tudo tem o bom e o ruim conjugados. Basta dizer que um dos modernistas de 22 foi Plínio Salgado, notabilizado na década seguinte por liderar o movimento integralista, que chegou a tentar a deposição do presidente Getúlio Vargas pelas armas, para a implantação de um governo de inspiração fascista.

Como legado positivo daquela Semana ainda tão falada podemos listar a obra pictórica de Di Cavalcanti e o incansável trabalho de Mário de Andrade em captar a essência da cultura praticada nas diversas região deste país tão imenso. Mário foi um herói brasileiro.

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