Esporte | 31 de março de 2023 17:47

Revista Fórum: Desembargadores atingem o ponto culminante da África

Equipe superou quase 6.000 metros de altitude e frio de -25º graus

Desembargadores na equipe que acampou a 4.673 metros de altitude | Arquivo pessoal/Cláudio Dell’Orto

Por Matheus Salomão

Enquanto muitos curtiam o calor, os desfiles e bloquinhos na folia do Carnaval no Rio de Janeiro, os desembargadores Cláudio Dell’Orto, Eduardo Gusmão e Rosa Helena Guita, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), se aventuraram no monte Kilimanjaro, na Tanzânia, e alcançaram o Pico Uhuru, ponto mais alto da África.

A 5.895 metros acima do nível do mar, a montanha é a 17º mais alta do mundo. A jornada aconteceu entre 12 e 18 de fevereiro.

Os magistrados tiveram o apoio da Trust Tours Tanzania, agência especializada em expedições. A empresa escalou guias para acompanhá-los, participou da montagem de acampamentos e providenciou alimentação.

Sobre o motivo para realizar a jornada, o desembargador Gusmão disse ter buscado “sair do nosso universo tradicional, do nosso conforto, de modo a ver o mundo por uma nova perspectiva”.

“Durante a viagem não se falou de política, processos ou sobre problemas. O desafio comum era subir. Pessoas das mais variadas idades, sempre prontas a compartilhar um remédio ou uma barra de chocolate”, afirmou o magistrado.

Gusmão tentara chegar ao topo do Kilimanjaro em 2018. As condições climáticas, aliadas à rota muito íngreme, impediram que chegasse ao cume. Não ter concluído a jornada gerou nele o “desconforto da derrota”. Assim, decidiu este ano tentar a subida pela Rota Lemosho, que, embora mais longa, registra índices positivos de sucesso.

O desembargador Dell’Orto recebeu no início de 2022 o convite de Gusmão para participar da viagem. A partir deste momento, ele e o filho Felipe iniciaram a intensa preparação.

“Realizamos diversos trekkings, como a travessia Petrópolis-Teresópolis em um único dia e a Pedra do Sino, no Parque Nacional de Itatiaia. Fizemos treinos de fortalecimento muscular e aeróbico. Viajei para Cusco [cidade nas montanhas do Peru], onde corri duas vezes e não tive nenhuma reação adversa”, disse Dell’Orto.

O sol ilumina uma das bases de apoio aos montanhistas | Arquivo pessoal/Cláudio Dell’Orto

O grupo de dez pessoas partiu de Arusha (norte da Tanzânia) rumo ao parque. Dormiram em acampamentos até alcançar a base, acima dos 5.000 metros de altitude. O ataque ao cume aconteceu durante a madrugada. O grupo iniciou a subida à 1h de 18 de fevereiro. A chegada ao topo do Uhuru aconteceu às 7h30, sob uma temperatura de -25º graus Celsius.

Gusmão relatou que ao chegar ao Kosovo, acampamento a 4.900 metros, avistaram a descida de um corpo, trazido por montanhistas. “Soubemos ser de um turista francês de 71 anos, que ao chegar ao topo não suportou o frio extremo, infartou e faleceu.”

O percurso apresentou muitas dificuldades.

“Sem dúvida o dia mais difícil foi o do ataque ao cume. Uma caminhada em frio extremo, com muito vento e na altitude. Nesse momento a vontade de desistir aparece. Nós nem sabemos exatamente como chegamos ao topo. A sensação de chegar é de vencer num mundo alheio, com regras desconhecidas, e de superar os seus próprios limites”, disse.

De acordo com Dell’Orto, a sensação ao término do percurso é de “realização de um sonho de superação”.

“Um dos guias afirmou logo no início da aventura que, além do treino físico, sua mente deve estar preparada para alcançar a meta. Muito foco e dedicação. Não podemos pensar somente no objetivo, mas, principalmente, em como faremos para alcançá-lo. Como eles dizem em swahili [idioma oficial da Tanzânia]: ‘pole pole’. Caminhe no seu ritmo, caso contrário você não chega”, complementou o magistrado.

Marco do acampamento Shira II, 3.850 metros acima do nível do mar | Arquivo pessoal/Cláudio Dell’Orto

Os três desembargadores integram o grupo AMAERJ Montanhas, que estimula a prática das atividades de montanhismo.

O monte Kilimanjaro atrai cerca de 20 mil visitantes por ano. A montanha fica no norte da Tanzânia, junto à fronteira com o Quênia. Com área de 75.353 hectares, o Parque Nacional é patrimônio da humanidade reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Piso mais alto da América

Outro magistrado que se aventurou este ano em um dos pontos mais altos do mundo foi Ronald Pietre. Em 16 de janeiro, o juiz partiu em uma expedição rumo ao cume do Aconcágua, na parte argentina da Cordilheira dos Andes. É a montanha mais alta fora da Ásia: 6.961 metros de altitude.

Após nove dias, ele chegou aos 6.000 metros, não alcançando o topo por “falta de condições físicas”. Pietre contou que fez uma preparação especial para a escalada, mas contraiu Covid-19 em novembro de 2022.

“Refletindo muito sobre tudo o que ocorreu na expedição, acredito que a Covid tenha contribuído para isso”, avaliou.

Trekking da AMAERJ

A organização do tradicional Trekking da AMAERJ já discute quando será o primeiro evento de 2023. A previsão é que aconteça no início de junho. A data e o percurso ainda não foram definidos.