* G1/Bem Estar
Na quinta-feira da semana passada, a Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) realizou o seminário “Direitos aos idosos”, coordenado pela juíza de Direito Maria Aglaé Tedesco Vilardo, que é também doutora em bioética e presidente do Fórum Permanente de Biodireito, bioética e gerontologia. Ela tem se empenhado na criação de uma Vara de Justiça exclusiva para os idosos, que até hoje estão “alojados” com crianças e adolescentes: “como fazer com que os direitos dos mais velhos sejam efetivamente atendidos numa Vara da Infância, da Juventude e do Idoso?”, argumentou.
“É o mesmo que comparar pediatras e geriatras e pedir que cuidem dos mesmos pacientes. O Ministério Público já tem grupos dedicados a este segmento, mas, no Tribunal de Justiça, o juiz tem que cuidar dessa amplitude de casos, sem o foco que a questão do idoso exige”.
Mas ela não desiste: a EMERJ criou um mestrado profissional em justiça e saúde, em parceria com a Fiocruz, com uma disciplina exclusiva sobre envelhecimento. “Temos que nos preparar para o momento da virada, quando o Brasil será um país com número expressivo de velhos. Principalmente, temos que nos despir de preconceitos e adotar uma postura de respeito”.
No mesmo evento, a geriatra Claudia Burlá, especialista em medicina paliativa, chamou a atenção para o que considera um dos desafios do século 21: “precisamos aprender a lidar com as adversidades das pessoas que estão envelhecendo. Trata-se de um ‘fenômeno iceberg’: aos 60 anos, mesmo que o indivíduo esteja bem de saúde, uma boa anamnese feita pelo médico provavelmente vai indicar uns cinco problemas ativos. Aos 65 anos, serão sete problemas. São as chamadas comorbidades, doenças simultâneas que o paciente tem que enfrentar. Se todas forem tratadas com medicamentos, há risco de iatrogenia, que é o resultado de complicações derivadas do uso das várias substâncias contidas nos remédios”.
A médica também lembrou dos dois grandes grupos de enfermidades ligadas ao envelhecimento: os diversos tipos de câncer e as doenças neurodegenerativas, especialmente o Alzheimer, que responde por 60% a 80% das demências.
“A Doença de Alzheimer é uma epidemia silenciosa”, explicou a doutora Claudia, que, em mais de 30 anos de clínica, já acompanhou dezenas de pacientes com mais de 100 anos. “Na faixa dos 60, 10% já apresentam algum sintoma e o risco dobra a cada cinco anos. Aos 85 anos, praticamente metade da população terá algum tipo de demência”. Daí a importância dos cuidados paliativos, já que apenas 10% das pessoas morrem de forma súbita, inesperada. Um paciente com Alzheimer precisará de cuidados multidisciplinares por anos, ou até décadas.
“O processo do envelhecimento se dá de forma diferente em cada um. Apesar da sua variabilidade, ele traz vulnerabilidade e a irreversibilidade. Os cuidados paliativos possibilitam que a pessoa consiga ressignificar sua vida, ou o fim dela”.
Em vídeo, o cantor e compositor Gilberto Gil mandou seu recado para a plateia, falando de finitude. Disse que, apesar dos avanços da ciência, “ainda somos mortais e a morte tem que ser encarada da melhor forma possível”. Por isso para ele é tão importante ter a seu alcance as coisas de que mais gosta: “a mulher amada, os filhos construindo suas próprias vidas, a música”.
O artista contou que o período no qual ficou hospitalizado em 2016 foi brutal: “o tratamento impunha tantos sacrifícios e tamanho mal-estar que, em determinado momento, falei que preferia morrer a continuar assim”. Recuperado, resumiu: “o colorido da vida é fazer parte dessa grande reunião de seres em interação”.
Fonte: G1/Bem Estar