* Siro Darlan
‘Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem’, Bertold Brecht, dramaturgo alemão.
Muitas vezes passamos por tribulações na vida que servem para uma reflexão importante. Vale a pena continuar lutando por ideais? Essa parada é necessária, mas na vida é impossível parar. Mesmo quando decidimos não avançar, a vida avança. E às vezes temos mesmo a impressão de que ela corre. E nesse nosso viver encontramos diariamente caminhos. Em cada situação há sempre uma opção de estrada. Pode-se escolher a mais longa, mais curta, mais fácil, mais difícil… E na verdade nem sempre sabemos aonde nos conduzirá nossa escolha.
O poeta diz que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Por isso não desanimamos. Mesmo que às vezes nos vejamos arruinados, incompreendidos, desprezados, o nosso interior se fortalece e, depois de uma fase de muda, voltamos a cantar. O volume insignificante de uma tribulação momentânea não deve ofuscar o desejo de servir.
Importante é a cada dia, cada passo, seguir e assumir. Ninguém, ninguém mesmo, pode ou deve ser responsável pelas nossas escolhas. Não devemos lamentar nossas opções, apenas assumi-las com todas as suas consequências. Algumas vezes sofremos porque escolhemos caminhos errados. E sabemos que não há volta para as caminhadas da vida, mas sempre teremos a opção de dirigir nossos passos para direções diferentes. E então teremos oportunidades para novas e diferentes escolhas, independentemente dos riscos a correr, o importante é não parar.
Abraçar qualquer causa tem um custo emocional e físico. O compromisso de vida com a causa dos excluídos me fez buscar a Justiça como ferramenta para servir aos mais vulneráveis, e não para servir-me desse poder em causa própria. Isso incomoda muita gente, essa vocação é uma escolha estreita e com muitos espinhos, mas é passageiro. Importante é ter a coragem de fazer escolhas sem se manter morno.
Não há fé sem práticas e resultados concretos. A mudança encontra resistência, mas vale a pena.
Água parada apodrece e tem mau cheiro. Deus nos deu a liberdade para escolher sempre o Bem. Quero ser como as águas dos rios, correndo sempre em alguma direção, regando flores, que nascem nas margens, matando a fome e a sede de pássaros e homens, até desembocar em grandes mares, não desistindo nunca, nem mesmo diante de incompreensões e rejeições.
Siro Darlan é desembargador do TJ e membro da Associação Juízes para a Democracia
Fonte: O Dia