A luta contra a corrupção precisa ser sustentável e leva “décadas, gerações”, afirmou no Rio o professor de Harvard (EUA) Matthew Stephenson, durante o seminário “Corrupção e Eleições”, promovido pela EMERJ, nesta segunda-feira (7), no Rio. Especialista no estudo da corrupção, Stephenson comentava o impacto positivo que ações como a Operação Lava-Jato – e a “Mãos Limpas”, na Itália – podem ter no combate estrutural ao crime. Segundo ele, essas ações são “são necessárias, mas não suficientes”.
A presidente da AMAERJ, Renata Gil, participou da abertura do seminário, que contou ainda com a participação do presidente da EMERJ, Ricardo Cardozo, do TRE, Carlos Eduardo da Fonseca Passos, e do procurador da República Deltan Dellagnol, coordenador da Operação Lava-Jato em Curitiba, entre outros.
“Operações como essas representam uma mudança drástica em um período curto e geram a oportunidade de mudanças. Porém o combate à corrupção é um longo processo que deve ser sustentável. Grandes golpes, como a Lava-Jato, são úteis para mostrar às pessoas que é possível mudar esse quadro. Mas a experiência mundial mostra que as ações não-sustentáveis não levam a transformações. E é difícil manter essas ações no longo prazo. A luta contra a corrupção leva décadas, gerações para obter mudanças significativas”, afirmou o professor de Direito.
Stephenson afirmou que mesmo países considerados pouco corruptos hoje – como Estados Unidos e Suécia, por exemplo –, no passado enfrentaram “corrupção sistemática”. “Os EUA dos séculos 18 e 19 e a Suécia do século 19 eram altamente corrupção. É claro que a transição sempre foi um problema, mas é possível para todos os países. Ela dura muito tempo, décadas. Nos EUA, foi do fim da Guerra Civil, em 1865, até a Segunda Guerra Mundial, nos anos 1940; na Suécia durou de 1815 a 1850.”
Para o professor norte-americano, é possível ver os futuros desdobramentos da Lava-Jato com otimismo. “Vemos um esforço genuíno de se responsabilizar políticos de alto escalão. Vemos que há uma oportunidade de confrontar e rejeitar a cultura de impunidade”, disse. Por outro lado, ponderou que são normais reações de corruptos, que buscam criar uma narrativa de “perseguição política” assim como a criação de mecanismos para restringir a atuação independente de magistrados e do Ministério Público.