Judiciário na Mídia Hoje | 15 de agosto de 2022 15:40

Justiça mantém prisão temporária de Sabine Boghici, suspeita de planejar golpe milionário na mãe

*Extra

A 23ª Vara Criminal da Comarca da Capital do Tribunal da Justiça do Rio manteve a prisão temporária de Sabine Boghici em audiência de custódia realizada nesta sexta-feira (12). A juíza Ariadne Villela Lopes considerou que a prisão temporária de Sabine está dentro do prazo de validade e segue regular. Rosa Stanesco Nicolau, que teria participado do crime se apresentando como falsa vidente, também teve a prisão mantida em audiência por decisão da juíza Rachel Assad da Cunha. Além de Sabine, outras cinco pessoas participaram do golpe com obras de arte estimado em R$ 725 milhões contra uma idosa de 82 anos. A vítima é mãe de Sabine e viúva do colecionador de arte Jean Bighici, que morreu em 2015.

A Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti) deflagrou, na última quarta-feira (10), a Operação Sol Poente, contra suspeitos de roubar obras de arte — entre eles, quadros de Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral — joias e relógios Rolex, além de pagamentos em dinheiro feitos pela vítima aos integrantes da quadrilha. A obra de Tarsila do Amaral, que dá nome à operação, foi recuperada pela polícia.

As investigações da Deapti mostram que a filha da idosa e uma vidente, ambas presas por participação no crime, planejaram a ação por pelo menos quatro meses. Em depoimento prestado na especializada pela vítima, ela contou que um funcionário da casa da família, em Itaipava, na Região Serrana, relatou que Sabine Coll Boghici conversava e discutia por telefone com Rosa Stanesco Nicolau, conhecida como Mãe Valéria de Oxossi, entre os meses de setembro e dezembro de 2019.

De acordo com o inquérito da Deapti, em janeiro de 2020, após sair de uma agência bancária em Copacabana, a idosa foi abordada por Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, que, apresentando-se como vidente, disse que sua filha, Sabine Coll Boghici, estava doente e morreria em breve. Ela conseguiu convencê-la a ir até seu apartamento, na Rua Barata Ribeiro, onde teria jogado búzios e confirmado o “evento trágico”.

Nessa residência, foi perguntado à idosa onde a filha morava e se possuía objetos de valor, o que acarretou a desconfiança da idosa, que não respondeu às indagações. Diana então disse que seria melhor que ela procurasse outra pessoa, de confiança, para salvar a vida da filha. Elas seguiram então para a casa de Rosa Stanesco Nicolau, a Mãe Valéria de Oxossi, na Rua Maria Quitéria, em Ipanema. Após jogar búzios e colocar cartas, a mulher novamente confirmou que a filha estaria com “espírito ruim” que a levaria à morte e pediu o pagamento pelo serviço.

Ao questionar as videntes sobre os valores, a idosa recebeu como resposta que ela poderia pagar o que lhe fora cobrado. A vítima contou sobre o acontecido à filha, Sabine, e essa lhe orientou que providenciasse imediatamente o pagamento a fim de lhe curar sobre o mal que a atingia. Acreditando nas previsões, sobretudo diante dos problemas psicológicos como depressão e síndrome do pânico que a filha sofria, concordou em efetuar transferências de mais de R$ 5

Alguns dias após o início do tratamento espiritual, Sabine começou a isolar a mãe de pessoas com quem ela convivia regularmente, além de dispensar funcionários que prestavam serviços domésticos e a impedindo de usar os aparelhos telefônicos da residência. Quando, em fevereiro de 2020, desconfiada de que a filha agia em comum acordo com as falsas videntes envolvidas na fraude, a idosa resolveu suspender os pagamentos, sua filha passou a agredi-la e a negar comida. As medidas seriam para forçar a vítima a voltar a realizar as transferências.

O inquérito mostra que Sabine colocou por diversas vezes uma faca em seu pescoço, enquanto no viva-voz do telefone as falsas videntes a extorquiam para entregar bens em troca de supostos tratamentos espirituais. Ela teria passado a isolar a mãe de amigos e funcionários, deixando a vítima sem acesso a telefone nem alimentação e a ameaçando de morte.