* Siro Darlan
“A atual diretoria do Flamengo assumiu a presidência prometendo sanear as dívidas do clube e uma administração eficiente e transparente. Isso é um sonho para todos os rubro-negros que amam seu clube de coração. O Presidente Bandeira de Melo apresentou aos Conselheiros uma série de propostas que todos desejamos que se realizem, mas nada de concreto até então. A administração tem sido marcada por atitudes autoritárias e desrespeitosas a todos os setores do clube.
Ontem alguns conselheiros foram impedidos de participar de uma importante deliberação sob alegação de não estar em dia com a cobrança de uma taxa extra para pagamento de dívidas passadas que deveriam ser quitadas através das receitas orçamentárias, e que pretendia impor aos sócios ao arrepio do que reza o artigo 1º da Lei Maior do Flamengo que estabelece que o associado do Clube “não responde pelas dívidas contraídas pelo Clube”.
Essa empáfia e autoritarismo imposto por um grupo que assaltou o poder do Flamengo, embora de forma democrática, pelo voto não vai chegar a lugar nenhum. Os sóciosofendidos pelo constrangimento de ter sido barrado em razão do não pagamento de uma taxa considerada nula pelo poder competente poderá recorrer ao judiciário para se ressarcir desse prejuízo e obter verbas indenizatórias por esse dano moral.
Evidentemente não haverá rubro negro que ouse, apesar desse direito, avançar em cima das já tão combalidas finanças do clube. Mas essa forma descontrolada e desrespeitosa que ofende e chama adversários eventuais de “corja” não une nem leva o clube ao topo desejado por todos.
A ideia de unir os associados para ajudar o Clube a sanear suas dívidas e até a aumentar e melhorar seu patrimônio é salutar, mas para atingir esse desiderato é preciso usar métodos democráticos de consulta e aperfeiçoamento das relações entre todas as correntes políticas do clube. Uma diretoria que persegue rubro-negros que a incomodam porque faz oposição e discorda de alguns conceitos, que afasta a torcida dos estádios com alto custo dos ingressos para vender assinatura de televisão, que a cada ato administrativo avança no orçamento futuro, comprometendo futuras administrações, prática que condenava no período pré-eleitoral não é o melhor canal de união.
Prevaleceu a democracia, e o Poder Deliberativo se manifestou em sua imensa maioria para derrubar uma taxa imoral, ilegal e maquiavélica que abriria se prevalecesse um perigoso precedente para pagar dívidas impostas ao Flamengo por atos administrativos irresponsáveis que precisam ser apurados e responsabilizados seus autores. Mas ficou uma indagação triste diante da denúncia documentada de um ilustre Conselheiro que a Diretoria contratara uma empresa para espionar os associados, o que ficou comprovado pela presença de um funcionário do clube filmando e gravando uma assembleia privada do Conselho Deliberativo.
Que São Judas Tadeu nos inspire a encontrar a paz e união tão necessárias para enfrentar nossos tradicionais adversários no campo esportivo!
* desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia.
Fonte: Jornal do Brasil