Cerca de 5.000 crianças e adolescentes estão aptas para adoção no país. A fila é grande, mas existe outra oito vezes maior. São 41 mil pessoas habilitadas para adotar neste momento. No entanto, a conta não fecha porque a maioria dos casais quer o mesmo perfil de criança – bebê, saudável e sem irmãos. Para estimular as adoções necessárias, a AMB e a AMAERJ lançaram nacionalmente a campanha ‘O Ideal é Real – Adoções Necessárias’, nesta terça-feira (14), no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília.
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Idealizado pelo juiz Sérgio Ribeiro (diretor de Direitos Humanos e Proteção Integral da AMAERJ) e criado no Rio em 2017, o projeto será estendido para os tribunais de todo o país, com o apoio do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), da Câmara e dos Ministérios do Desenvolvimento Social e dos Direitos Humanos.
“Os números causam perplexidade. Como assim os números não fecham? Porque o grupo das adoções necessárias (a partir dos oito anos de idade, adolescentes, grupos de irmãos e infantes com problemas de saúde) ficam em abrigos, o tempo passa e eles não conseguem a adoção. É possível zerar a fila de adoção no país, basta que 12% dos habilitados mudem o perfil”, disse Sérgio Ribeiro, que atua na 4ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do TJ-RJ.
O objetivo do ‘O Ideal é Real’ é promover o encontro das crianças e adolescentes com os pretendentes da adoção. Segundo Sergio Ribeiro, muitas adoções foram concluídas depois deste contato. “As adoções necessárias dependem de um encontro. O Judiciário precisa proporcionar este contato. De um lado, existem casais que idealizam uma criança, do outro lado, estão as crianças reais. Nosso trabalho é juntá-los.”
A presidente da AMAERJ e vice Institucional da AMB, Renata Gil, destacou os inúmeros projetos sociais criados por juízes do Rio de Janeiro. Ela afirmou que a extensão da campanha da AMAERJ ‘O Ideal é Real’ para o Brasil é fundamental para chamar a atenção da sociedade sobre o tema.
“Hoje é um dia de muita alegria para nós que vivenciamos o início do projeto e agora vemos o seu crescimento. Lançamos aqui na Câmara por ser a casa do povo e pelo envolvimento institucional de várias entidades que podem fazer diferença nesta área. Esperamos que a sociedade abrace a campanha para que possamos unir essas novas famílias. Essa causa é grande. Que sejamos instrumento da paz, de união e do amor”, afirmou Renata Gil.
Apoio legislativo
O 1º vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho (PMDB-MG), ressaltou que a iniciativa dos magistrados proporciona esperança para o grupo das adoções necessárias. “É notável o sucesso do projeto. A Câmara apoia fortemente a iniciativa. Todas as crianças merecem um lar. Parabenizo o juiz Sergio Ribeiro pelo seu esforço para promover o encontro de adotantes e crianças e adolescentes. A extensão do projeto para o território nacional vai trazer mais alegria e amor para as famílias brasileiras.”
O deputado Alan Rick (DEM-AC), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família, ressaltou a importância da nova Lei de Adoção no Brasil. “A lei incentiva a doação de grupos de família e quer buscar essa interação de pais e filhos. Hoje, demos um passo fundamental para trazer ‘O Ideal é Real.”
Para o presidente da AMB, Jayme de Oliveira, iniciativas como esta cumprem o objetivo da Associação de juntar o Direito e a fraternidade. “O Sérgio Ribeiro identificou o problema da fila de adoção e desenvolveu o projeto para mudar esta realidade. Temos que construir a democracia fraterna. É isso que a AMB está tentando fazer e trabalhar”, disse.
A secretária de Infância e Juventude da AMB, Valéria Rodrigues, afirmou que o projeto não podia ficar restrito ao Rio de Janeiro. “Deve ser abraçado pelo Brasil inteiro.”
Símbolo do projeto
O casal Thiago de Paiva e Luciana Vilella, pais da menina Alice, símbolo do projeto, participaram do lançamento. Eles foram citados como exemplo a ser seguido por todos que discursaram. Alice nasceu com microcefalia, paralisia cerebral e epilepsia, e foi adotada por eles em fevereiro de 2017.
Thiago de Paiva disse que ele e a mulher mudaram de perfil por causa do contato direto. “Com o lançamento nacional, esperamos que a campanha consiga alcançar o maior número de casais habilitados, para que possam abrir o coração e olhar para crianças com o perfil um pouco diferente do que o planejado. A nossa vinda e o nosso apoio acontecem pela esperança de que a nossa experiência aconteça no Brasil inteiro.”
Ele destacou que o projeto é fundamental para a conscientização dos adotantes. Thiago ainda ressaltou a facilidade de implantar a campanha. “O projeto é completamente viável, não precisa de verba pública, basta a sensibilização das pessoas. Com o apoio dos juízes nas comarcas, tenho certeza que conseguiremos zerar a fila de adoção.”
A mãe afirmou que Alice foi um presente de Deus. “Estávamos precisando de um filho e ela precisava de uma família. Não pensamos em nada, só nela.”
Assista aqui à reportagem da TV Globo sobre o lançamento do projeto em Brasília.