Titular da Corregedoria Geral Unificada do Estado do Rio de Janeiro, a desembargadora Ivone Caetano foi inspiração para a atriz Erika Januza criar a personagem Raquel, a juíza da novela “O Outro Lado do Paraíso”, da TV Globo. Além da cor da pele e do preconceito sofrido ao longo de suas trajetórias, as magistradas da vida real e da ficção compartilham histórias de superação.
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Erika e Ivone se conheceram após uma palestra da desembargadora na EMERJ (Escola de Magistratura), antes do início da novela. Marcaram uma longa conversa na sede da Corregedoria e até hoje trocam mensagens pelo WhatsApp.
“Dizem que a arte imita a vida ou vice-versa e está tudo muito bem colocado (na novela), até na postura da Erika. Ela disse que aprendeu até os meus gestos. Erika é uma pessoa muito capaz. Só acho que, apesar de a Globo e o autor (Walcyr Carrasco) conduzirem bem, a denúncia do racismo e a exibição de pessoas negras bem sucedidas poderia ter sido há 20 anos”, conta a corregedora.
Em entrevista ao caderno Ela, do jornal O Globo, Erika contou que a história de vida da primeira mulher negra a se tornar juíza e depois desembargadora do TJ-RJ serviu de inspiração para compor a personagem Raquel. Ivone é filha da lavadeira Josepha, que criou sozinha os 11 filhos.
“Marcamos um horário e ficamos uma tarde inteira conversando. Fiquei impressionada com a história e a postura dela. Ivone sofreu muita coisa e, ao mesmo tempo, tem uma força enorme. Vê-la no meio de um monte de homens, resolvendo e administrando tudo, foi muito inspirador. Ela faz isso tudo com uma postura impecável que levei para a Raquel”, disse a atriz ao Ela.
No início da trama que se passa no Tocantins, a personagem quilombola era empregada doméstica na casa de um juiz e sofria com o racismo e os maus tratos da patroa. Ivone acompanha a novela pela internet e ressalta a importância da denúncia do racismo na sociedade brasileira.
“Estamos em pleno século 21 e a situação do racismo no Brasil só piora, está um grau muito pior do que mostrado a novela. A diferença é que agora, nós negros, podemos abrir a boca, nos defender e mostrar que o racismo existe no Brasil. Eu sempre falei sobre isso e agora está sendo visibilizado. Espero que meus pares, principalmente os mais jovens, não tenham que passam por tudo que passei”, disse a magistrada.