O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estabeleceu medidas para a adequação dos tribunais de todo o país à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). A proposta de resolução foi aprovada nesta terça-feira (15) pelo plenário.
A LGPD entrou em vigor no mês de setembro, regulamentando a coleta, o armazenamento e a manipulação de dados pessoais. O objetivo da norma do CNJ é facilitar o processo de implementação da legislação no âmbito do sistema judicial.
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O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro já conta com o Comitê Gestor de Proteção de Dados Pessoais desde setembro. A juíza Daniela Bandeira representa a AMAERJ na comissão, que avalia os mecanismos de tratamento e proteção dos dados existentes para propor ações voltadas a seu aperfeiçoamento. Administrativamente, a Associação iniciou, também, seu procedimento de adaptação à lei.
No CNJ, o relator da proposta foi o conselheiro Henrique Ávila. O presidente da AMAERJ, Felipe Gonçalves, e o secretário-geral da Associação, Richard Robert Fairclough, acompanharam a sessão do Conselho, em Brasília. Confira abaixo a minuta da resolução aprovada pelo CNJ:
RESOLUÇÃO
Estabelece medidas para o processo de adequação à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais a serem adotadas pelos Tribunais.
O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ), no uso de suas atribuições legais e regimentais,
CONSIDERANDO que é missão do Conselho Nacional de Justiça desenvolver políticas judiciárias que promovam a efetividade e a unidade ao Poder Judiciário, para os valores de justiça e de paz social;
CONSIDERANDO a entrada em vigor da Lei no 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de dados Pessoais – LGPD), bem como a crescente utilização da Internet e de modelos digitais estruturados para acesso e processamento de dados disponibilizados pelos órgãos do Poder Judiciário;
CONSIDERANDO a criação, por intermédio da Portaria CNJ no 212/2020, do Grupo de Trabalho destinado à elaboração de estudos e propostas voltadas à adequação dos tribunais à Lei no 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais);
CONSIDERANDO a necessidade de proteção da privacidade e dos dados pessoais dos titulares nos atos processuais e administrativos;
CONSIDERANDO a necessidade de padronização de critérios mínimos para os programas de implementação prática da Lei no 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD) em todos os tribunais do país;
CONSIDERANDO os termos já constantes na Recomendação CNJ no 73/2020, que recomenda aos órgãos do Poder Judiciário brasileiro a adoção de medidas preparatórias e ações iniciais para adequação às disposições contidas na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD);
CONSIDERANDO a decisão plenária tomada no julgamento do Ato Normativo no 000XXXXXX.2020.2.00.0000, na XXXXª Sessão XXXXX, realizada em XXX de XXXX de 2020;
RESOLVE:
Art. 1o Estabelecer medidas para o processo de adequação à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais a serem adotadas pelos tribunais do país (primeira e segunda instâncias e Cortes Superiores), à exceção do Supremo Tribunal Federal, para facilitar o processo de implementação no âmbito do sistema judicial, consistentes em:
I – criar o Comitê Gestor de Proteção de Dados Pessoais (CGPD), que será o responsável pelo processo de implementação da Lei no 13.709/2018 em cada tribunal, com as seguintes características:
a) a composição do referido Comitê deverá ter caráter multidisciplinar e ter em vista o porte de cada tribunal;
b) caberá a cada Tribunal a decisão de promover a capacitação dos membros do CGPD sobre a LGPD e normas afins, o que poderá ser viabilizado pelas Academias ou Escolas Judiciais das respectivas Cortes de Justiça;
II – designar o encarregado pelo tratamento de dados pessoais, conforme o disposto no art. 41 da LGPD;
III – formar um Grupo de Trabalho Técnico de caráter multidisciplinar para auxiliar nas funções junto ao encarregado pelo GT, composto, entre outros, por servidores da área de tecnologia, segurança da informação e jurídica;
IV – elaborar, por meio de canal do próprio encarregado, ou em parceria com as respectivas ouvidorias dos tribunais:
a) formulário eletrônico ou sistema para atendimento das requisições e/ou reclamações apresentadas por parte dos titulares dos dados pessoais;
b) fluxo para atendimento aos direitos dos titulares (art. 18, 19 e 20 da LGPD), requisições e/ou reclamações apresentadas, desde o seu ingresso até o fornecimento da respectiva resposta;
V – criar um site com informações sobre a aplicação da LGPD aos tribunais, incluindo:
a) os requisitos para o tratamento legítimo de dados;
b) as obrigações dos controladores e os direitos dos titulares nos termos do art. 1o, II, “a” da Recomendação do CNJ no 73/2020;
c) as informações sobre o encarregado (nome, endereço e e-mail para contato), referidas no art. 41, § 1o, da LGPD;
VI – disponibilizar informação adequada sobre o tratamento de dados pessoais, nos termos do art. 9o da LGPD, por meio de:
a) avisos de cookies no portal institucional de cada tribunal;
b) política de privacidade para navegação na página da instituição;
c) política geral de privacidade e proteção de dados pessoais a ser aplicada internamente no âmbito de cada tribunal e supervisionada pelo CGPD;
VII – zelar para que as ações relacionadas à LGPD sejam cadastradas com os assuntos pertinentes da tabela processual unificada;
VIII – determinar aos serviços extrajudiciais que, sob a supervisão da respetiva Corregedoria Geral da Justiça, analisem a adequação à LGPD no âmbito de suas atribuições;
IX – organizar programa de conscientização sobre a LGPD, destinado a magistrados, servidores, trabalhadores terceirizados, estagiários e residentes judiciais, das áreas administrativas e judiciais de primeira e segunda instâncias e Cortes Superiores, à exceção do Supremo Tribunal Federal;
X – revisar os modelos de minutas de contratos e convênios com terceiros já existentes, que autorizem o compartilhamento de dados, bem como elaborar orientações para as contratações futuras, para conformidade com a LGPD, considerando os seguintes critérios:
a) para uma determinada operação de tratamento de dados pessoais deve haver:
1. uma respectiva finalidade específica;
2. em consonância ao interesse público; e
3. com lastro em regra de competência administrativa aplicável à situação concreta;
b) o tratamento de dados pessoais previsto no respectivo ato deve ser:
1. compatível com a finalidade especificada; e
2. necessário para a sua realização;
c) inclusão de cláusulas de eliminação de dados pessoais nos contratos, convênios e instrumentos congêneres, à luz dos parâmetros da finalidade e da necessidade acima indicados;
d) realizar relatório de impacto de proteção de dados previamente ao contrato ou convênio, com observância do princípio da transparência;
XI – implementar medidas de segurança, técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou qualquer forma de tratamento inadequado ou ilícito, nos termos do art. 46 e seguintes da LGPD, por meio:
a) da elaboração de política de segurança da informação que contenha plano de resposta a incidentes (art. 48 da LGPD), bem como a previsão de adoção de mecanismos de segurança desde a concepção de novos produtos ou serviços (art. 46, § 1o);
b) da avaliação dos sistemas e dos bancos de dados, em que houver tratamento de dados pessoais, submetendo tais resultados à apreciação do CGPD para as devidas deliberações;
c) da avaliação da segurança de integrações de sistemas;
d) da análise da segurança das hipóteses de compartilhamento de dados pessoais com terceiros;
XII – elaborar e manter os registros de tratamentos de dados pessoais contendo informações sobre
a) finalidade do tratamento;
b) base legal;
c) descrição dos titulares;
d) categorias de dados;
e) categorias de destinatários;
f) eventual transferência internacional; e
g) prazo de conservação e medidas de segurança adotadas, nos termos do art. 37 da LGPD.
XIII – Informar o CGPD sobre os projetos de automação e inteligência artificial.
Art. 2o Para o cumprimento do disposto nesta Resolução, recomenda-se que o processo de implementação da LGPD contemple, ao menos, as seguintes ações:
I – realização do mapeamento de todas as atividades de tratamento de dados pessoais por meio de questionário, conforme modelo a ser elaborado pelo CNJ;
II – realização da avaliação das vulnerabilidades (gap assessment) para a análise das lacunas da instituição em relação à proteção de dados pessoais;
III – elaboração de plano de ação (Roadmap), com a previsão de todas as atividades constantes nesta Resolução.
Art. 3o Esta Resolução entra em vigor na data da sua publicação.
Ministro LUIZ FUX