Notícias | 29 de janeiro de 2019 16:32

Mostra no CCMJ destaca ação feminina na Constituinte

Silvia Monte, diretora do CCMJ e curadora da exposição

Entre as estátuas da Lei e da Justiça, na entrada do Museu da Justiça – Centro Cultural do Poder Judiciário (CCMJ), os degraus da escadaria trazem lemas como “Quem ama não mata”, “O privado é político”, “Nenhuma a menos”. A entrada da exposição “Mulheres, a Hora e a Voz – Direitos, Conquistas e Desafios”, inaugurada nesta terça-feira (29) e aberta ao público a partir de quarta-feira (30), prepara o espectador para um mergulho no movimento das mulheres pela inclusão de seus direitos na Constituição Federal de 1988.

O Salão dos Passos Perdidos, repleto de bustos masculinos, foi preenchido com imagens e falas de mulheres essenciais para a defesa de seus direitos. Expor vozes femininas em um ambiente masculino é proposital, como explica a diretora do CCMJ, Silvia Monte.

“Os bustos provocam o visitante a olhar não apenas para as figuras daqueles grandes advogados ali homenageados por terem atuado no 1º Tribunal do Júri, mas, também, a pensar sobre a luta das mulheres para adentrarem num mundo encabeçado por homens”, disse Silvia, que também assina a curadoria da mostra.

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Cada painel mostra uma passagem no tempo: começa na inclusão do termo “mulheres” no preâmbulo da Carta da ONU – trabalho liderado pela diplomata brasileira Bertha Luz –, passa pelo Brasil dos anos 1970, com a reação contra a violência de gênero, e chega ao Lobby do Batom, no fim da década de 1980. Nos vitrais, fotos e histórias de filósofas e ativistas em prol dos direitos das mulheres.

Escadaria do CCMJ com lemas

“Na época, 2% dos constituintes eram mulheres e após o movimento, subiu para 9%. Isso somente na Câmara, pois não havia uma senadora. De todos os pedidos do Lobby do Batom, 80% foram incluídos na Constituição. O museu tem que trazer à memória a luta das mulheres em busca da cidadania. O museu tem que estar vivo, e a sociedade precisa discutir esses movimentos de avanço”, afirmou Silvia.

O trabalho das lideranças do CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher) foi fundamental entre 1985 e 1988. Para dar voz a elas, foram entrevistadas Jacqueline Pitanguy (socióloga, presidente do CNDM de 1985 a 1989), Comba Marques Porto (advogada, coordenadora da Campanha “Mulher e Constituinte”), Leila Linhares Barsted (advogada, consultora jurídica da OAB Mulher) e Schuma Schumaher (pedagoga, secretaria executiva do CNDM e articulista da campanha “Mulher e Constituinte”).

Detalhes relevantes

A cenografia foi pensada nos detalhes. À direita, há um espelho onde pode se fotografar com o cartaz das mulheres na passeata do Dia Internacional da Mulher de 1983, no Rio de Janeiro, posicionado na parede oposto. Na foto da manifestação, algumas das entrevistadas aparecem fantasiadas de estereótipos femininos. Em uma das estantes ao lado do espelho, cinco batons vermelhos na estante podem ser usados para deixar seu recado no espelho e cartazes foram feitos para mandar sua mensagem.

Na escrivaninha disposta no meio do salão, diversas referências ao movimento feminista no Brasil. Uma réplica da Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes, entregue ao presidente da Assembleia Nacional Constituinte, o deputado Ulysses Guimarães, em agosto de 1986. Um placa com o lema “Quem ama não mata”. No porta-retrato, uma foto da manifestação de 1983. Na máquina de escrever, uma carta com um crime real da época. O livro aberto, “Espelho de Vênus”, é assinado por três das quatro entrevistadas e foi encontrado em um sebo no Rio.

A pesquisa e a curadoria começaram em agosto do ano passado, depois de a juíza Adriana Ramos de Mello (1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher) conversar com Silvia Monte. Além das entrevistas, fotos de arquivos pessoais e de instituições – como Arquivo Nacional, o CNDM e a Fundação Getúlio Vargas – foram usadas na exposição.

Serviço
Exposição “Mulheres, a Hora e a Voz – Direitos, Conquistas e Desafios”
Entrada gratuita
Horário: De segunda a sexta, de 11h às 19h; sábados, de 14h às 18h
Período: De 30 de janeiro a 31 de maio
Endereço: Rua Dom Manuel, 29, Centro

*Com informações do CCMJ