No coração de mãe sempre tem espaço para mais um. Um casal de gays de Angatuba deu uma demonstração de que essa máxima não se aplica apenas ao instinto materno.
Eles acabam de ganhar a guarda definitiva de cinco irmãos, com idade de 4 a 10 anos, que viviam em um abrigo público municipal na cidade de Sumidouro, no interior do Rio de Janeiro, e que há dois anos já conviviam com o casal. Juntos há sete anos, o chefe de cozinha Leandro Santoni Miguel, 28 anos, e o operador de máquinas, Miguel Santana Neto, 42 anos, vivem em união estável desde 2009, e sempre tiveram como sonho formar uma família com filhos.
Para que isso pudesse se concretizar, há três anos eles se inscreveram no Cadastro Nacional de Adoção e aguardaram por cerca de um ano até receberem o contato do Fórum de Sumidouro.
“Inicialmente nos disseram que eram duas crianças, mas quando chegamos lá tinham cinco irmãos. O coração amoleceu, não dava para separá-los, então decidimos ficar com todos”, recorda Leandro.
Os pais tinham perdido o pátrio poder desde 2001, quando as crianças mais velhas passaram a ser acolhidas pela entidade e conforme os outros filhos foram nascendo também acabaram sendo conduzidos para o abrigo.
Depois de quatro dias de convivência na instituição, eles retornaram para Angatuba com a guarda provisória das crianças e o desafio de passar a educá-las como seus filhos. “O próprio juiz ficou emocionado com o nosso ato e até contratou uma van para trazer todos nós para casa”. O juiz em questão chama-se Josimar de Miranda, é titular do Cartório da Vara Única da Comarca de Sumidouro, no Rio, e diretor do Departamento de Motociclismo da Amaerj. Magistrado há 25 anos, ele declarou em entrevista ao Jornal Hoje da TV Globo, exibida no dia 31 de junho: “Acertei? Não sei. Cumpri meu dever com a consciência tranquila. Confesso que hoje eu durmo sossegado porque decidi dentro dos parâmetros para os quais eu fui preparado”.
Leandro diz que no começo não foi fácil, pois depois de passarem tanto tempo sem uma família, as crianças eram um pouco fechadas. Mas esse receio inicial foi logo vencido com a convivência e o amor que todos dedicavam a eles. “Nós recebemos o apoio de toda a família e até mesmo da comunidade que se oferecia para ajudar, o que acontece até hoje”.
Ele garante que o fato de serem homossexuais não causou estranheza nas crianças, que agiram naturalmente com o fato de terem dois pais desde o primeiro momento que se encontraram no abrigo.
Para conseguir cuidar dos cinco filhos, Leandro teve que deixar o seu trabalho e passou a se dedicar integralmente à casa, mas ainda faz encomendas de salgados para festas para ajudar nas despesas. A casa onde moram também teve que ganhar mais espaço para acolher os novos moradores.
Hoje, os cinco filhos do casal – Camila (10), Romário (9), Maicon (8), Leandro (7) e Mariana (4) – convivem como uma família normal. “Agora eles estão passando férias na casa dos avós”, conta.
Leandro diz que a própria comunidade não demonstra qualquer preconceito e ainda procura ajudar no que é preciso e até bolsa de estudos em uma escola particular eles já conseguiram.
“Dizer que dois homens não são capazes de criar os filhos é pura discriminação. Existem muitos casais heteros que não têm o respeito de seus filhos. O que vale é o amor e a dignidade que ensinamos a eles”, enfatiza.
Para o casal, o dia 29 de junho é uma data a ser comemorada para sempre. Foi quando eles passaram a ter o direito legal sobre os filhos, que ganharam, inclusive, uma nova certidão de nascimento, com os nomes dos dois pais e dos avós paternos.
“Até então nós não divulgávamos a situação para preservá-los, mas agora são nossos filhos e não temos nada a esconder. Eles são o nosso orgulho. E ficamos ainda mais felizes da forma como eles são acolhidos por todos”.
Fonte: O Expresso
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