* Gilberto Pinheiro
O homem sensato busca sua evolução – não apenas material, mas um comprometimento maior com a responsabilidade e melhor entendimento sobre a vida em amplo espectro, onde o bom senso predomine. Faz-se necessário crescer como um todo, discernindo imparcialmente com irretorquível senso de justiça sobre o certo e o errado, o aceitável e o inaceitável. À luz dessas iniciais palavras, ensejo enfatizar algo que entendo como abominável e que precisa ser banido de nosso país – a caça esportiva.
Considero inaceitável atitudes que levem um animal, na verdade, um ser vivo e senciente ao sofrimento pelo prazer humano. É inadmissível que em pleno terceiro milênio ainda haja leis que regulamentem a caça, sendo tolerante com esta insofismável forma de violência, o injusto e segregador entendimento de “coisas”, como consta no Código Civil Brasileiro de 2002. Na verdade, a caça esportiva surgiu em nosso país no final do século XIX e início do século XX, quando proliferaram associações de tiro ao alvo, tendo os animais como mira. Em 16 de setembro de 1905, o Jornal do Brasil destaca em suas páginas a existência no Rio de Janeiro do Tiro Civil – Clube Caça e Tiro ao Alvo. As pesquisas em jornais brasileiros dos últimos 20 anos subsequentes revelam o surgimento de várias associ ações, agremiações para este fim excêntrico e de imensa perversidade contra os animais. E, paradoxalmente, uma sociedade tão religiosa, crente nos mais altivos valores crísticos e libertadores da alma.
ADOLFO VARNHAGEN – intelectual e incentivador da prática esportiva no Brasil
A motivação para essa modalidade “esportiva” tem sua raiz e inspiração nos imigrantes europeus no século XIX, prática comum em toda Europa, quando nobres
dedicavam-se a essa prática de subjugação e utilização dos animais para o divertimento. Na época do Império no Brasil, Adolfo Varnhagen, intelectual e autor do livro Caça no Brasil, ou manual do caçador em toda a América Tropical estimulou bastante esta prática em nosso país e considerava tal atividade semelhante à arte de guerra, forma atípica de treinamento de guerreiros aristrocratas. Incentivando também a prática de falcoaria, utilizando aves de rapina domesticadas para esses fins.
Posteriormente, já no Brasil república, motivados com a modalidade, surgiram então muitas organizações no âmbito nacional, como por exemplo, a Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo, dando margem à irresponsabilidade, pois matar animal por esporte começava a virar regra regulamentada por lei. O obscurantismo vigente impedia que a sensatez se manifestasse, modificando paradigma em prol do bem animal. A sociedade brasileira tornou-se então tolerante com a caça, um erro de avaliação e entendimento sobre a vida. O antropocentrismo “corria nas veias humanas”, uma suposta e inaceitável superioridade, trazendo a reboque o especismo que hoje em dia refutamos com veemência, afinal, o saber liberta-nos dos grilhões do desconhecimento e do primitivismo humano.
DIGAMOS NÃO AO SOFRIMENTO DOS ANIMAIS
Sem mais alongar-me, precisamos dizer não às modalidades ou práticas “esportivas” que produzem o sofrimento animal. Não cabem mais nos dias atuais tais práticas, inclusive, a pesca esportiva que, infelizmente, ganha força no Brasil para atender à demanda de pessoas que entendem animais como objetos de lazer, hobby ou assemelhados. O homem civilizado, elevado moralmente e respeitador da vida em sua grandiosidade não produz sofrimento a nenhuma manifestação de vida, seja ela vegetal, animal ou humana. Se caçadores e pescadores que praticam tais modalidades substituíssem as armas de caça e pesca por livros, teriam outro entendimento sobre a vida e não viveriam à margem dos pântanos onde se planta e colhe a miséria da alma e a rudeza das atitudes.
Portanto, sugiro que que todos nós digamos ” NÃO ” de forma resoluta e inconteste às práticas deletérias e crueis de caça e pesca esportivas; digamos corajosamente” NÃO ” à interpretação de animais como coisas, exatamente como consta no Código Civil Brasileiro – é preciso outro entendimento para que haja justiça e respeito à vida animal em sua ampla diversidade. A evolução não pode parar e o tempo urge mudanças para o bem da vida manifestada na Terra, onde somos todos zeladores e responsáveis pela fauna e flora e não podemos nos omitir desse dever.
– Eu penso assim!!!
Gilberto Pinheiro é jornalista, palestrante em escolas e universidades sobre a senciência e direitos dos animais