Notícias | 29 de janeiro de 2016 16:39

Caça “esportiva” – Do Império à República no Brasil

Gilberto Pinheiro

O homem sensato busca sua evolução – não apenas material, mas um comprometimento maior com a responsabilidade e melhor entendimento sobre a vida em amplo espectro,  onde o  bom senso predomine. Faz-se necessário  crescer como um todo, discernindo imparcialmente com irretorquível senso de justiça sobre  o certo e o errado, o aceitável e o inaceitável.   À  luz dessas iniciais palavras, ensejo enfatizar algo que entendo como abominável e  que precisa ser banido de nosso país – a caça  esportiva.

Considero inaceitável atitudes que levem um animal, na verdade, um  ser vivo e senciente ao sofrimento pelo prazer humano. É inadmissível que em pleno terceiro milênio ainda haja leis que regulamentem a caça, sendo tolerante com esta insofismável forma de violência, o injusto e segregador entendimento de “coisas”, como consta no Código Civil  Brasileiro de 2002.   Na verdade, a caça esportiva surgiu em nosso país no final do século XIX e início do século XX, quando proliferaram associações de tiro ao alvo, tendo os animais como mira.  Em 16 de setembro de 1905, o Jornal do Brasil destaca em suas páginas a existência no Rio de Janeiro  do Tiro Civil – Clube Caça e Tiro ao Alvo.  As pesquisas em jornais brasileiros dos últimos 20 anos subsequentes revelam o surgimento de várias associ ações, agremiações para este fim excêntrico e de imensa perversidade contra os animais. E, paradoxalmente, uma sociedade tão religiosa, crente nos mais altivos  valores  crísticos e libertadores da alma.

ADOLFO VARNHAGEN – intelectual e incentivador da prática esportiva no Brasil 

A motivação para essa modalidade “esportiva” tem sua raiz e inspiração nos  imigrantes europeus no século XIX, prática comum em toda Europa, quando nobres
dedicavam-se a essa prática de subjugação e utilização dos animais para o divertimento.   Na época do Império no Brasil, Adolfo  Varnhagen, intelectual e autor do livro Caça no Brasil, ou manual do caçador em toda a América Tropical  estimulou bastante esta prática em nosso país e considerava tal atividade semelhante à arte de guerra, forma atípica de treinamento de guerreiros aristrocratas. Incentivando também a prática de falcoaria, utilizando aves de rapina domesticadas para esses fins.

Posteriormente, já no Brasil república, motivados com a modalidade, surgiram então muitas  organizações no âmbito nacional, como por exemplo,  a Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo, dando margem à irresponsabilidade, pois matar animal por esporte começava a virar regra regulamentada por lei.  O obscurantismo vigente impedia que a sensatez se manifestasse, modificando paradigma em prol do bem animal. A sociedade brasileira tornou-se então tolerante com a caça, um erro de avaliação e entendimento sobre a vida.  O antropocentrismo “corria nas veias humanas”, uma suposta e inaceitável superioridade, trazendo a reboque o especismo que hoje em dia refutamos com veemência, afinal, o saber liberta-nos dos grilhões do desconhecimento e do primitivismo humano.

DIGAMOS NÃO AO SOFRIMENTO DOS ANIMAIS 

Sem mais alongar-me, precisamos dizer não às modalidades ou práticas “esportivas” que produzem o sofrimento animal. Não cabem mais nos dias atuais tais práticas, inclusive, a pesca esportiva que, infelizmente,  ganha força no Brasil para atender à demanda de pessoas que entendem animais como objetos de lazer, hobby ou assemelhados.   O homem civilizado, elevado moralmente e respeitador da vida em sua grandiosidade  não produz sofrimento a nenhuma manifestação de vida, seja ela vegetal, animal ou humana.  Se caçadores e pescadores que praticam tais modalidades substituíssem as armas de caça e pesca por livros, teriam outro entendimento sobre a vida e não viveriam à margem dos pântanos onde se planta e colhe a miséria da alma e a rudeza das atitudes.

Portanto, sugiro que que todos nós digamos ” NÃO ”  de forma resoluta e inconteste às práticas deletérias e crueis de caça e pesca esportivas;  digamos corajosamente” NÃO ” à interpretação de animais como coisas, exatamente  como consta no Código Civil Brasileiro – é preciso outro entendimento para que haja justiça e respeito à vida animal em sua ampla diversidade.  A  evolução não pode parar e o tempo urge mudanças para o bem da vida manifestada na Terra, onde somos todos zeladores e responsáveis pela fauna e flora e não podemos nos omitir desse dever.

– Eu penso assim!!!

Gilberto Pinheiro é jornalista, palestrante em escolas e universidades sobre a senciência e direitos dos animais