A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, criticou, nesta segunda-feira (3), o tratamento dirigido a ambientalistas pela sociedade brasileira. Para ela, “os defensores da humanidade não podem ser tratados como inimigos”. A procuradora participou do lançamento no Brasil da Iniciativa da ONU de Defensores do Meio Ambiente, programa internacional promovido pela ONU Meio Ambiente.
A cerimônia aconteceu no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Raquel Dodge integrou a mesa conduzida pela presidente da AMAERJ e vice-presidente Institucional da AMB, Renata Gil. Ao abrir o discurso, a procuradora disse que o Brasil “amanheceu de luto”, em referência ao incêndio que destruiu, neste domingo (2), o bissecular Museu Nacional.
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Antes de relacionar os nomes e as atividades desenvolvidas por ambientalistas assassinadas, Raquel Dodge falou que, no Brasil, é “elevada” a impunidade de quem pratica crime ambiental e mata ativistas.
“As investigações policiais se arrastam por anos”, lamentou a procuradora, para quem “é preciso mudar a atitude das pessoas, com mais informações sobre a importância do desenvolvimento sustentável”.
O ministro Herman Benjamin, do STJ, foi até mais incisivo que Raquel Dodge ao comentar a prática de crimes ambientais no Brasil.
“O tema ‘defensores ambientais’, a rigor, não deveria existir se fôssemos, efetivamente, um país em que o Estado de Direito fosse levado a sério, se fôssemos um país civilizado. O Brasil é o campeão mundial de assassinatos não resolvidos. Esse lugar desonroso que o Brasil ocupa nas estatísticas internacionais, nós, brasileiros, não merecemos”, afirmou.
Dados da organização Global Witness revelam que em 2017 houve 207 assassinatos de defensores do meio ambiente e dos direitos humanos em todo o mundo. O Brasil é o líder isolado deste ranking macabro, com 57 crimes.
“Esse número é assustador”, declarou Renata Gil, que também comentou o incêndio no Museu Nacional. “Estamos lamentando no Museu do Amanhã a perda do ‘Museu do Ontem’.”
A solenidade teve, ainda, a presença do ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha, da atriz e ativista Taís Araújo, dos ambientalistas Tarcisio Feitosa e Maria do Socorro da Silva, do coordenador-residente do Sistema das Nações Unidas no Brasil, Niky Fabiancic, e do diretor da América Latina e do Caribe da ONU Meio Ambiente, Leo Heileman.