O site do jornal “O Globo” divulgou nesta quarta-feira (26) o artigo “Políticas pela equidade de gênero não são favor”, de autoria do desembargador Wagner Cinelli, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O magistrado ressaltou que os obstáculos no caminho das mulheres precisam ser percebidos e removidos, a fim de possibilitar a elas posições de liderança e de poder.
“Políticas pela equidade de gênero não são um favor às mulheres nem concessão dos homens. São necessidade social, requisito para subir degraus na escada da civilização”, destacou Wagner Cinelli.
Wagner Cinelli é autor dos livros “Sobre ela: uma história de violência” e “Metendo a Colher” e diretor do premiado curta-metragem de animação “Sobre Ela”. Confira o artigo:
Políticas pela equidade de gênero não são favor
Encontro uma tirinha da Mafalda, do cartunista Quino. Ela mostra um globo terrestre para seu urso de pelúcia e, sorrindo, pergunta por que o mundo é tão bonito. Na sequência, com semblante triste, responde a si própria:
— Porque é um modelo reduzido. O original é um desastre.
O planeta, de fato, enfrenta muitos desafios e, com o propósito de colocá-lo no caminho da sustentabilidade econômica e social, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2015, lançou a Agenda 2030. Assim, com a participação de 193 Estados-membros, incluindo o Brasil, foram estabelecidos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para “acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.”
A pretensão é que todos esses Objetivos, que são interdependentes, sejam implementados até 2030, sendo um deles: “Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” (ODS 5).
Empoderamento feminino significa mulheres participando do poder, nas esferas pública e privada. Para que tal se realize, é fundamental que tenham acesso à educação, ao mundo digital e ao mercado de trabalho. Além disso, os obstáculos de seu caminho precisam ser percebidos e removidos, possibilitando que atinjam as posições de liderança e de poder, que até pouco tempo atrás eram ocupadas de forma exclusiva pelos homens.
A presença desse tema na Agenda 2030 é muito importante, mas o debate e as ações pelo empoderamento das mulheres já estavam em pauta desde os anos 1970, com o apoio da própria ONU e também de outras entidades.
Nesse caminho, merece destaque um empreendimento iniciado em 2010 por uma mulher inglesa, executiva do mercado financeiro, que teve a ideia de montar uma rede para influenciar executivos e CEOs na promoção de práticas visando a aumentar a diversidade nos conselhos e diretorias de empresas. Seu nome é Helena Morrissey, e a entidade que fundou se denomina 30% Club.
Como o nome sugere, o alvo era que as companhias listadas no FTSE 100 Index (Reino Unido) passassem a ter pelo menos 30% de mulheres em seus boards, meta atingida em setembro de 2018. O 30% Club, desejando globalizar sua proposta, hoje se faz presente em mais de 20 países, inclusive no Brasil. Aliás, 30% é somente o primeiro patamar, pois o objetivo final é a paridade.
Voltando a Mafalda, sem dúvida, tinha motivo para se entristecer. Afinal, o mundo não está bonito. Há pobreza, desigualdades e sérios riscos para a humanidade e para o próprio planeta. Mas práticas desenvolvidas por organizações intergovernamentais como a ONU e iniciativas como a de Helena Morrissey trazem um alento, notadamente pelas ações afirmativas que incentivam.
Por fim, políticas pela equidade de gênero não são um favor às mulheres nem concessão dos homens. São necessidade social, requisito para subir degraus na escada da civilização. Adotando-as, fica a esperança de que uma criança que ainda vai nascer, ao encontrar a mesma historieta, não tenha a menor ideia do que Mafalda estava falando. E aí, quem sabe, o mundo estará salvo.
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