A orla do Leblon foi tomada por uma onda azul, cheia de esperança por dias com mais respeito e inclusão, na manhã deste domingo (7). A 9ª Marcha pelo Autismo reuniu 8.000 pais, filhos e parceiros da causa para conscientizar a sociedade sobre o transtorno de desenvolvimento que atinge 70 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Liderada pela juíza do TJ-RJ Keyla Blank de Cnop, a AMAERJ apoiou o evento, distribuiu panfletos, adesivos e água aos participantes.
Também participaram da caminhada pioneira no tema no Brasil a juíza Maria Aglaé Tedesco, presidente do Fórum Permanente da EMERJ (Escola da Magistratura do Rio de Janeiro), e a desembargadora Katya Monnerat, mãe de Enzo, de 17 anos. Ela participa do evento desde a primeira edição e já viu mudanças neste período.
“Quando ele [Enzo] tinha dois anos, não havia nada. Hoje em dia, é diferente. Ele está na sétima escola e, finalmente, encontramos um espaço em que há um olhar diferenciado. Foi a primeira vez em 17 anos que ele recebeu notas, e está muito feliz. E é exatamente isso que procuramos: saúde e felicidade”, disse a desembargadora da 7ª Câmara Cível que, acompanhada do casal de filhos e do marido, mandou uma mensagem de amor na marcha.
Para Keyla, titular do 16º Juizado Especial Cível e mãe de Artur, de 14 anos, diversos pleitos foram atendidos pela legislação nestes nove anos. “Conseguimos uma lei que reserva dois lugares em sala de aula a crianças autistas. Há outra que obriga o Estado a implantar dez centros de tratamento para autismo em todo o Estado. Também há o texto para implementar protocolo médico nas creches municipais para que crianças do espectro autista sejam encaminhadas pela própria escola a um neurologista da Clínica da Família. Isso leva a um diagnóstico precoce”, disse ela, acrescentando que pretende “levar informação até quando não tivermos mais voz”.
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Marcha pelo Autismo será às 9h deste domingo (7), no Leblon
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Para a magistrada, ainda há problemas na inclusão na escola. Ela falou sobre a Escola Especializada Dayse Mansur da Costa Lima, em Volta Redonda (município no SUl Fluminense). É a primeira escola da América Latina com atendimento focado em autistas. Ela atende crianças e adolescentes até 16 anos e os encaminha, após o colégio, para ensino profissionalizante. “Exemplo, nós temos. Mas no município do Rio, não vi nenhuma evolução. Ainda teremos muito luta pela frente”, disse.
Denise Aragão, que particiou ada organização com Keyla, disse acreditar que a Caminhada já rendeu frutos. “Percebi uma redução no preconceito e na falta de conhecimento. O preconceito nada mais é do que a falta de informação, e as pessoas o têm com o que elas desconhecem. Por isso, temos que insistir na conscientização enquanto for necessário”, afirmou.
Foi por essa transformação que passou a atriz Daphne Bozaski, de 26 anos. Convidada especial da Marcha, ela teve que estudar e conhecer adolescentes autistas para compor a personagem Benê, em “Malhação – Viva a diferença”, na TV Globo.
“Unir o que você gosta com uma missão maior, uma mensagem, é muita responsabilidade. Para me preparar para o papel, pesquisei e li muito. Começamos a gravar em São Paulo no início de 2017 e, depois de vir para o Rio, tive contato com adolescentes por meio do Instituto Priorit. Aprendi muito”, comentou ela, que afirma ter amadurecido seu olhar. “Ter contato com eles e receber muitas mensagens me mudou como pessoa. Isso trouxe mais sabedoria e menos preconceito.”
A Marcha realizada neste domingo também contou com o apoio do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). Oito mil pessoas caminharam do posto 12 ao 11 da praia do Leblon (Zona sul) e, ao fim do evento, soltaram balões azuis.
O evento é realizado com o objetivo de, além de chamar a atenção para a causa, celebrar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo (2 de abril), criado em 2007 para difundir informações sobre o TEA (Transtornos do Espectro Autista). No Brasil, 2 milhões de pessoas tem o distúrbio neorológico.
O transtorno causa problemas no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e no comportamento social da criança. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o autismo atinge ambos os sexos e todas as etnias. No entanto, o número de ocorrências é maior no sexo masculino (cerca de 4,5 vezes a mais do que nas mulheres).
O autismo não tem cura e suas causas ainda são incertas, mas pode ser tratado para que o paciente se adeque ao convívio social e às atividades acadêmicas. Quanto antes o autismo for diagnosticado, melhor.