AMAERJ | 22 de fevereiro de 2018 11:00

Revista FÓRUM: Seis décadas de Bossa Nova

Os parceiros Carlos Lyra e Roberto Menescal | FOTO: Divulgação

Dos pioneiros do movimento, Roberto Menescal, aos 80 anos, ainda grava discos e lota concertos

POR SERGIO TORRES

Apontado pelos pesquisadores da música brasileira como o marco inicial da Bossa Nova, o disco “Canção do Amor Demais” completará 60 anos neste 2018. O LP em que Elizeth Cardoso (1920-1990) interpreta 13 canções de Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980) trouxe, pela primeira vez com destaque, o violão revolucionário de João Gilberto. Ali começou o movimento que, na primeira metade da década seguinte, conquistaria o mercado internacional em um patamar nunca antes alcançado pela música do Brasil.

Os anos de 2017 e 2018 são ricos em efemérides bossa-novistas. Se vivo fosse, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom, teria completado 90 anos em 25 de janeiro do ano passado. Marcus Vinícius de Moraes faria 105 anos no próximo 19 de outubro. Violonista que incorporou à Bossa Nova componentes africanos, Baden Powell de Aquino (1937-2000) teria, hoje, 80.

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Elizeth, Vinícius, Tom e Baden já não estão mais por aqui. João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, felizmente, está, mas, aos 86 anos, recluso em um endereço na zona sul carioca, dá a impressão aos fãs que sua carreira musical terminou. Esperemos que seja só impressão. Cabe, então, a Roberto Batalha Menescal a tarefa de manter viva a Bossa Nova, não só nos moldes formatados por seus idealizadores, mas, sobretudo, com a carga de inovações que faz questão de acrescentar aos espetáculos, discos e projetos.

A vida de Roberto Menescal é outra efeméride fundamental da Bossa Nova, e razão principal deste texto. Ele acaba de chegar aos 80 anos, em 25 de outubro passado. Autor de clássicos eternos do movimento – “O Barquinho”, “Você”, “Vagamente”, “Nós e o Mar”, “Rio” e “Tetê”, todas com o letrista Ronaldo Bôscoli (1928-1994) -, Menescal demonstra não estar acomodado com o sucesso e o peso das oito décadas de vida.

A agenda comemorativa de Menescal surpreende pela variedade de iniciativas e o afi nco com que se dedica à carreira. Mestre no violão, acaba de lançar um CD com canções compostas com o letrista Abel Silva, que se notabilizou a partir dos anos 70 com as parcerias de sucesso com artistas de sua geração, como Moraes Moreira, João Bosco, Sueli Costa, Fagner, Ivan Lins, Dominguinhos e Robertinho de Recife, entre outros.

No disco com Abel, batizado de “O Encontro Inédito”, são interpretadas dez canções da dupla, com participações especiais das cantoras Fernanda Takai, Cláudia Telles, Cris Delanno, Leila Pinheiro e até Nara Leão (1942-1989), a musa da Bossa Nova. Nara canta “Transparências”, em gravação recuperada por Menescal, que a acompanha ao violão. “Transparências” é a primeira parceria Menescal-Abel.

CD recém-lançado de Menescal e Abel Silva | FOTO: Reprodução

Menescal conta como surgiu a canção. “Marquei um encontro, já com a fi ta K-7 com a melodia, e custei a achá-lo no Plataforma, escritório do nosso mestre Tom Jobim, porque não o conhecia pessoalmente. Quando vi aquele cara sozinho, falei: ‘É o Abel’. De lá pra cá, fizemos mais de 20 músicas”, relembra.

Outro projeto a que Menescal se dedicou nos últimos meses é o relançamento do CD “Bossa Nova Meets the Beatles”. Clássicos da banda inglesa, como “Something”, “Eleanor Rigby”, “Across the Universe”, “Michelle” e “A Day in the Life”, foram adaptados pelo músico ao estilo da Bossa Nova.

Guitarrista do The Police, o inglês Andy Summers, de 75 anos, é o convidado especial em “Yesterday”. Com Menescal e Cris Delanno, ele já gravara um CD em 2011. Em dezembro, o trio voltou a se encontrar no palco, no Rio, em espetáculo superconcorrido. Agora, a dupla de guitarristas planeja lançar em 2018 gravações de sucessos da banda inglesa em ritmo de Bossa Nova.

Os 80 anos de Menescal e os 60 da Bossa vêm sendo comemorados desde o segundo semestre do ano passado. Shows no Centro Cultural Banco do Brasil – em Brasília, São Paulo e Rio – reuniram o artista com amigos queridos, como Marcos Valle, Ivan Lins, Danilo Caymmi, Zélia Duncan, Leo Gandelman e Wanda Sá.

Em 2018, Menescal já tem viagem agendada para a Europa, a fi m de divulgar uma novidade em seu vasto repertório: um CD de frevos mesclados à Bossa Nova, lançado com os pernambucanos André Rio e Luciano Magno e batizado “MPBossa: da bossa ao frevo”.

E Menescal não fica só nisso. Prepara um segundo CD com o Bossacucanova, banda de música eletrônica e dançante que tem o filho Márcio Menescal no contrabaixo. Com o Quarteto do Rio, novo nome do conjunto Os Cariocas, Menescal lança o CD “Mr. Bossa Nova”, de músicas que compôs nestes 64 anos de carreira. Com Fernanda Takai, do Pato Fu, grava “O Tom da Takai”.

Também bossa-novista da primeira geração, o compositor e pianista João Donato de Oliveira Neto, de 83 anos, saúda o amigo, com quem compôs “A Cara do Rio”. “Menescal é um arranjador com extremo bom gosto. É um expoente da bossa nova. A música não tem idade. Ele é tão ativo quanto quando era mais jovem”, disse Donato.

Reunidos a Marcos Valle e Carlos Lyra, outro pioneiro, Menescal e Donato lançaram em 2008 (mais uma efeméride, esta de dez anos em 2018) o CD “Os Bossa Nova”, no qual a parceria “A Cara do Rio” teve a primeira gravação.

Em 2019, novas comemorações se apresentarão. A principal delas, os 60 anos de lançamento de “Chega de Saudade”, o primeiro disco de João Gilberto. A canção de Tom e Vinícius já constara no ano anterior do clássico LP de Elizeth Cardoso. A faixa teve o acompanhamento do violão de João, que chamou a atenção pela batida inovadora. Esta batida foi definidora do que passou a ser conhecido como Bossa Nova.

Veja aqui a íntegra da revista FÓRUM.