* Siro Darlan
Desde Aristóteles a escola é o lugar do saber e o saber é sinônimo de evolução de civilização e de construção de uma sociedade pacífica. No Brasil, não tem sido assim. Os últimos dados sobre violência nas escolas apontam o país em primeiro lugar do ranking em agressões aos professores. Em sexto lugar em homicídios de jovens de 0 a 19 anos, sendo o segundo país em números absolutos que mais mata sua infância e juventude.
Os administradores das escolas, desorientados, pedem a presença de policiais nas escolas, demitindo-se de sua autoridade acadêmica e disciplinar. Os administradores públicos investem na segurança externa aumentando o aparato de violência nas comunidades sem investirem nos educadores. Os professores mal remunerados e desmotivados demonstram sua insatisfação refletindo na falta de compromisso com a educação e recebendo como um bumerangue a violência dos desmotivados alunos.
A educação do século XX é rejeitada pelos alunos do século XXI. Como reverter esse quadro de violência mútua? Os “hermanos” argentinos nos apontam o caminho. Há na Argentina um forte investimento na valorização do magistério e uma preparação para patrocinar um ambiente escolar voltado para a paz. São as Escolas de Paz preparando os mestres e alunos para uma convivência pacífica através de treinamento de processo de resolução de conflitos com a mediação e a justiça restaurativa.
Com muito entusiasmo conheci recentemente o trabalho realizado nas escolas pelos Parceiros Brasil, capitaneado pela dra Gabriela Asmar. Já com algumas experiências exitosas na capacitação de professores e alunos os frutos já começam a ser colhidos em escolas públicas municipais onde alunos e professores mediadores estão sendo preparados para a resolução de conflitos que ficam adstritos aos muros escolares, quando antes eram levados à solução, quase sempre insuficientes dos Conselhos Tutelares, da autoridade policial e mesmo do judiciário.
Numa sociedade sofrida pelos inúmeros conflitos da vida moderna, é essencial que a paz seja plantada e apreendida a partir das escolas. É na escola que se deve aprender a arte da convivência pacífica e duradoura. O judiciário não está dando conta de resolver tantos e variados conflitos. É preciso que as novas e modernas modalidades de resolução de conflitos sejam ensinadas nas escolas. Alunos mediadores detêm maior compreensão das dificuldades e identificam melhor os interesses em jogo.
A mediação é a arte de compreender melhor o próximo e encaminhar as partes em conflito para que sejam protagonistas da solução. A presença de um terceiro que decide qual a solução nunca agrada a ambos. Daí afirmarmos que o juiz sempre está desagradando pelo menos a metade dos personagens em conflito, enquanto que através da mediação a possibilidade de êxito é de cem por cento, eis que a solução dos conflitos nasce através da identificação dos interesses comuns.
A sociedade em todas as suas dimensões precisa conhecer e praticar a mediação e as práticas restaurativas. Esse é o caminho da busca da paz social.
Siro Darlan é desembargador do TJ e coordenador do Rio da Associação Juízes para a Democracia
Fonte: O Dia