Gilberto Pinheiro
Os proficientes estudos à luz da neurociência descortinaram a verdade, em relação às sensibilidades dos animais. O que a Ciência oficial negava à fauna, hoje não há mais razão para negar. A laboriosa equipe de pesquisadores canadenses, comandada pelo dr. Philip Low, um dos mais renomados neurocientistas do mundo, docente da Universidade Stanford e pesquisador do MIT – Massachussets Institute of Tecnology, convenceu toda a academia científica em relação à senciência dos animais.
Outros colegas seus de diversas nacionalidades já sinalizavam e alertavam ao mundo acadêmico científico sobre as sensibilidades no reino animal, como por exemplo, o dr. Marck Bekoff da Universidade do Colorado afirmando que todas as características consideradas especificamente humanas em relação às sensibilidades e estímulos neuroniais também são comuns entre animais não humanos. Todavia, tais estudos ficavam centralizados nessas instituições sem o aval de toda nata científica.
Em relação a Philip Low e seus convincentes estudos, foi necessária Conferência Internacional na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, comprovando cientificamente seus estudos e ainda cunhou uma simples e emblemática frase – “agora, não podemos mais dizer que não sabíamos”.
OS PEIXES, OS POLVOS POSSUEM AS MESMAS SENSIBILIDADES QUE MAMÍFEROS – senciência animal
Também, pesquisadores da Universidade de Queen’s Belfast da Irlanda do Norte, pesquisando tais sensibilidades em peixes, espetando agulhas atrás das brânquias, descobriram que esses animais não agem por instinto – mensagens neuroniais são transmitidas ao telencéfalo, gerando dor, exatamente a mesma região do cérebro onde os sinais são processados em todo reino animal. O mesmo ocorre com o polvo em situação de perigo, gerando-lhe estresse.
Em síntese, todos os conceitos relacionados à fauna precisam ser retificados. Nâo cabem mais entendimentos de que agem por instinto apenas. Eles agem como todos nós agimos em condições de medo, de defesa, de alegria, tristeza. Não há mais o que contestar. Assim, tornam-se necessárias novas leis que coíbam quaisquer tipos de maus-tratos e crueldade contra os animais. Os tempos atuais exigem tais mudanças e faz-se mister outro entendimento em relação a eles.
Precisamos convencer à sociedade que rodeios, vaquejadas, farra do boi, animais em circo, rinha de galo, abandono de animais nas ruas não são mais aceitáveis nos dias de hoje. Há lei suficiente para debelar o incêndio da crueldade contra eles. Basta de especismo!
Inclusive, o Código Civil Brasileiro, datado de 2002, precisa ter outro entendimento sobre a fauna e o entendimento que animais são considerados “coisas” torna-se inaceitável. Portanto, está na hora de mudança de paradigmas e não podemos fechar os olhos para a verdade. Alguns países europeus como a França, Suíça, Inglaterra, por exemplo, alteraram o Código Civil, retirando o artigo que entendia animais como bem material ou “coisas.”
Sempre insistirei que a Senciência e Direitos dos Animais precisa ser disciplina obrigatória nas escolas no nível fundamental, ensino médio e, no ensino superior, como disciplina propedêutica em todos os segmentos universitários, inclusive, nas áreas técnicas. Não se pode mais fechar os olhos para a realidade. A Constituição Federal ampara os animais. O que está faltando para que a mesma seja respeitada?
É preciso uma formação integral ao ser humano – não apenas prepará-lo para as carreiras profissionais. É preciso despertar-lhe virtudes, para tornar-se um ser grandioso e respeitador à vida em sua ampla diversidade. É preciso despertar o que é belo e o que vale a pena ser empreendido no ser humano. Nâo posso pensar de forma arrivista, querer vencer na vida de qualquer jeito, desprezar a fauna, vendo-a inferior. É preciso olharmos para o lado e perceberemos alguma manifestação de vida, seja humana, animal ou vegetal. E precisamos respeitá-las.
O antropocentrismo não tem mais espaço quando o saber e o sentimento elevado se manifestam. E isso é fundamental, afinal, os animais não podem mais ser objetos da perversidade humana. Eles precisam ser respeitados.
Gilberto Pinheiro – jornalista, palestrante em escolas, universidades, articulista de sites sobre a senciência e direitos dos animais