Juiz de Direito Marcus Vinícius Pereira Júnior
Macau / RN
Logo após completar vinte e cinco anos, recentemente empossado no cargo de magistrado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, fui designado para a Comarca de Macau, onde comecei a tentar pacificar os conflitos de forma mais prática possível.
Assim, em audiência de conciliação, instrução e julgamento, realizada na referida comarca, estava em análise, naquele momento, a situação de uma senhora que comprou um liquidificador que não funcionava há vários dias.
No início da audiência, sem vestir paletó e gravata, mas apenas com camisa de mangas curtas, questionei se as partes queriam um café, um suco, uma água, tendo os advogados da fabricante do produto, que eram de Recife (PE), aceitado um suco, da mesma forma que o advogado da fornecedora, que era de São Paulo (SP). Imaginem: um defeito em um liquidificador deslocar advogados de cidades tão distantes, para participar de uma audiência!
Após a aceitação de todos, inclusive de minha parte, fui providenciar o suco, mas, obtive a resposta de que o liquidificador do fórum estava quebrado, momento no qual comecei a tentativa de acordo, partindo do constrangimento que passei, ao oferecer suco para as partes na audiência, sem a possibilidade de atender aos pedidos em razão do defeito no liquidificador que faria nosso suco.
Todos riram, e a audiência terminou em um belo acordo, gerando, para a parte autora, a felicidade pela resolução do problema e, para os advogados, o lamento por não terem tomado o suco, em um dia tão quente!
Ao terminar a audiência, enquanto eu digitava o termo de audiência e fazia a sentença homologatória do acordo, um advogado falou para o outro, em tom baixo:
– Essa Justiça do Rio Grande do Norte está bem desenvolvida, um fórum bem estruturado, salas amplas e um conciliador preparado, que soube conduzir a audiência de forma magistral, até suco ofereceu, para mostrar o que representa um liquidificador quebrado!
– Pois é, voltarei para o meu Estado, com uma excelente imagem da Justiça do RN, pois, se os conciliadores são preparados assim, imagine os magistrados – respondeu, em voz baixa, o outro advogado.
Concluído o termo de audiência, imprimi, assinei onde estava Juiz de Direito e entreguei para todos assinarem.
Ao perceberem que eu era o magistrado, foi um constrangimento só, pediram desculpas por estarem se referindo a mim como o conciliador, mas eu logo disse que me sentia orgulhoso de ser o conciliador preparado, que, mesmo sem o suco, conseguiu mediar um momento tão especial, possibilitando, assim, que a pacificação fosse conseguida!