Justiça Eleitoral | 30 de setembro de 2016 14:48

‘A ilicitude está se modernizando’, diz juiz eleitoral de Magé

* O Globo

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O juiz eleitoral de Magé, Vitor Moreira Lima, diz que a investigação dos casos de neoclientelismo é um jogo de gato e rato. Para ele, o wi-fi representa a modernidade na captação de votos. E classifica como assombrosa a modernização do crime.

O GLOBO: O que o senhor está achando da criatividade dos candidatos de Magé que, este ano, estão até oferecendo serviço de wi-fi gratuito?

Vitor Moreira Lima: Triste. O wi-fi representa a modernidade na captação de votos. Veja que a ilicitude está se modernizando. É assombroso. Ao mesmo tempo, é uma coisa a se pensar. O poder público deveria controlar melhor esses serviços, que são de empresas que não deveriam ter tanto poder. O candidato que adota essas práticas não tem nenhum senso de civilidade, de ética. Era justamente isso que o TRE esperava dos candidatos.

O GLOBO: Como o senhor pretende investigar esses casos?

Vitor Moreira Lima: É um jogo de gato e rato. Estamos dando os flagrantes, investigando os casos e tentando conscientizar os eleitores para que não se vendam.

O GLOBO: Em eleições anteriores, houve outras formas de captação de votos em Magé. Quais foram as práticas assistencialistas de que o senhor se recorda?

Vitor Moreira Lima: Houve uma época em que os candidatos davam pão e leite, dentaduras até para quem tinha dente. Lembro-me de que chegaram a dar caixões. Todos eles tinham o mesmo tamanho, o que chamava a atenção. Outra coisa interessante foram as perucas para as pessoas que estavam fazendo tratamento contra o câncer, uma vez que a candidata dizia que também sofria da mesma doença. Enfim, aqui tem essa cultura. O que me deixa ainda mais chateado é que a população daqui já fica a espera desses benefícios. O TRE está me dando o apoio total para acabar com essa prática, mas é surreal.

O GLOBO: O senhor acha que a Lei Eleitoral engessa o juiz na hora de tomar algumas medidas mais extremas como, por exemplo, uma interceptação telefônica?

Vitor Moreira Lima: Não se pode porque os crimes eleitorais ligados à propaganda ou à captação de votos não têm uma pena que permita determinadas medidas cautelares, que só ficam adstritas aos crimes de organização criminosa, tráfico de entorpecentes e de improbidade administrativa, que têm uma pena muito maior.

O GLOBO: Qual conselho o senhor dá aos eleitores para evitar que eles troquem o seu voto por “benefícios”?

Vitor Moreira Lima: Aquele que não tem ética não pode fazer trato e exigir depois. O que eu posso dizer é que tanto o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) quanto o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) estão dando apoio total e irrestrito aos juízes eleitorais para que as eleições sejam limpas e seguras. As tropas militares estão chegando justamente para garantir isso. O eleitor deve votar com a consciência pelo coletivo e não em troca de qualquer coisa, inclusive dinheiro.

Fonte: O Globo