Notícias | 04 de setembro de 2013 08:03

A guerra e suas baixas

* João Batista Damasceno

Policiais expostos diariamente na ‘guerra ao crime’ são submetidos à violência que toda guerra produz. A militarização da política de segurança expõe a vida de policiais, trabalhadores que merecem respeito. Omitem-se aos policiais os reais interesses da política de segurança que confronta os direitos humanos, assim como lhes nega os direitos decorrentes da cidadania assegurados aos demais servidores do Estado. Aos olhos de quem incentiva a ‘guerra’, pouco importa se morre um favelado ou um policial. 

Uma obra de arte exposta no Fórum foi motivo de polêmica. Parlamentar que tangencia grupo político acusado de discriminação racial e homofobia disse que a obra é ofensiva, demonstrando incapacidade de compreender e discutir com seriedade o modelo de política de segurança que suprime os direitos dos policiais sujeitos ao arbítrio de uma elite insensível. 

Aleijadinho retratou o Estado português crucificando Tiradentes; Goya, o massacre de 3 de maio de 1808 na Espanha; Picasso, o bombardeio de Guernica pelos nazistas em apoio aos franquistas. Em todas as obras não há crítica ao agente do Estado, mas à violência do Estado. A obra de Latuff não retrata Jesus e não tem alusão religiosa. Crucificação foi crueldade praticada pelo Estado romano contra muitos. A obra retrata um homem negro vítima da violência do Estado, cena comum na periferia. 

A política de confronto submete policiais à truculência e os expõe à morte. O policial que a executa também é vítima dela. É um trabalhador a quem se incumbe “lutar contra o mal”, “ser forte” e “enfrentar a morte”. Sendo impossível vencer a morte, do enfrentamento resulta a perda da vida do policial, enquanto quem ordena vive no deleite. A desmilitarização da política de segurança elevará o policial à condição de plena cidadania. Só os que se beneficiam da política de segurança militarizada e com a ‘guerra à criminalidade’ são capazes de defender a política de confronto e extermínio. 

Promover a defesa dos policiais implica defender uma política de segurança humanizada que os valorize, propiciando-lhes vida com qualidade.

Doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia

Fonte: O Dia