Em entrevista coletiva à imprensa, concedida na tarde desta terça-feira 27 no Tribunal de Justiça do Rio, o delegado da Divisão de Homicídios (DH), Felipe Ettore, afirmou que a motivação para o assassinato da juíza Patrícia Acioli seria uma investigação da magistrada sobre o envolvimento do tenente-coronel Claudio Luiz Oliveira em casos de corrupção e execuções. O ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo) foi apontado como o mandante da morte da juíza por um dos cabos que já se encontrava preso pelo crime.
O cabo – Sergio Costa Junior ou Jefferson de Araújo Miranda, o nome não foi revelado – beneficiou-se da delação premiada, em audiência de antecipação de provas realizada nesta segunda-feira (26), depois da qual o juiz Petersen Barroso Simão, da 3ª Vara Criminal de Niterói, decretou, a pedido do Ministério Público, a prisão temporária, por 15 dias, de mais sete policiais militares: além do tenente-coronel Claudio Luiz, os PMs Charles de Azevedo Tavares, Alex Ribeiro Pereira, Carlos Adílio Maciel Santos, Sammy dos Santos Quintanilha, Jovanis Falcão Junior e Junior Cezar de Medeiros. Com estes, chega a 10 o total de policiais presos.
O delator e sua família foram incluídos no serviço de proteção à testemunha, a pedido da Defensoria Pública. Os outros policiais deverão ficar no presídio Bangu VIII.
O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, defendeu a “maneira transparente” como vem sendo conduzida a investigação que, segundo ele, está próxima do desfecho. “Mas como ainda há pessoas a serem ouvidas, não podemos revelar alguns fatos”, completou. A seu lado, a chefe da Polícia Civil do Rio, delegada Martha Rocha, fez coro, pontuando que “antes de 60 dias a Polícia Civil já terá concluído o inquérito do assassinato de Patrícia Acioli”. A delegada informou, ainda, que até o momento 380 armas foram periciadas.
“Trama macabra”
Indagado pelos jornalistas se é possível fazer alguma previsão, o delegado Felipe Ettore reiterou apenas que “o desfecho está próximo”. “Há testemunhos de que o tenente-coronel Claudio é o autor intelectual dessa trama macabra. Ele ia ser preso mais cedo ou mais tarde”, completou. Questionado sobre o papel de cada um no crime, o delegado disse que prefere aguardar os depoimentos que restam para se pronunciar.
O procurador geral do Estado do Rio, Claudio Lopes, anunciou que, após as prisões temporárias, começa agora a “fase judicial”. Ele fez questão de parabenizar a Polícia “por elucidar num prazo curto esse crime bárbaro”.
Questionado por um jornalista, o secretário José Beltrame negou que a transferência de comando do Batalhão de São Gonçalo para o da Maré, logo após o assassinato da juíza Patrícia, teria sido uma espécie de “promoção” para o tenente-coronel Claudio Luiz. “Proteção nunca houve, nunca haverá. Quem me conhece sabe que não compactuo com isso.”
Nesse momento, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Manoel Alberto Rebêlo, saiu em defesa do secretário, destacando a “solidariedade” recebida da Secretaria de Segurança do Rio.
“Eu sempre tive certeza de que todos os culpados seriam capturados e punidos. Esse é um caso raro, onde se conseguiu chegar ao mentor do crime, o que é muito difícil de acontecer, e isso só foi possível graças ao trabalho primoroso da Polícia Civil do Rio, a quem quero elogiar em público”, afirmou o desembargador.
“Temos que fazer Justiça de forma tranqüila, não somos justiceiros”
Ao agradecer, “em nome da magistratura fluminense”, o presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj), desembargador Antonio Cesar Siqueira, salientou que a Polícia Civil, “mesmo diante de um crime sem testemunhas e apenas com provas técnicas, apontou três executores no prazo de um mês”. “Naquele momento (do anúncio das conclusões preliminares, no dia 12/9), afirmamos que o inquérito prosseguiria, porque estávamos certos de que havia um mandante”, disse. “Temos que fazer justiça de forma tranqüila, não somos justiceiros”, ponderou.
Ainda de acordo com o desembargador, se por um lado “é preciso parabenizar a Polícia Civil pela investigação, em que todos mantiveram o respeito à regra do silêncio”, por outro, há que se lamentar que um comandante da Polícia Militar esteja envolvido no crime da juíza Patrícia Acioli. “É inaceitável que certas pessoas, algumas ocupando cargos de comando na PM, estejam envolvidas num ataque tão grave à democracia.”
Fonte: Assessoria de Imprensa da Amaerj
| Veja reportagem exibida ontem (27/09) no Jornal Nacional, da TV Globo