AMB | 20 de novembro de 2021 17:28

História brasileira na Pequena África é revisitada na Caminhada Negra no Rio

Magistrados, familiares e guia em passeio na Pequena África | Foto: Evelyn Soares

A história negra viva na oralidade e na arquitetura da cidade do Rio de Janeiro foi revisitada neste sábado (20), Dia da Consciência Negra. Na “Caminhada Negra” da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), magistrados e familiares percorreram um trecho do espaço conhecido como Pequena África.

A guia Raquel Oliveira, do grupo Sou + Carioca, conduziu o grupo a partir do MAR (Museu de Arte do Rio), na Praça Mauá, por ruas e vielas de rica história na Saúde e na Gamboa, bairros próximos ao Centro do Rio, na zona portuária.

“Esta é a herança africana no Rio. ‘Pequena África’ é um termo cunhado pelo multiartista Heitor dos Prazeres [1898-1966] […] e abrange bairros como Saúde, Gamboa, Santo Cristo, Estácio, Cidade Nova, chegando na beira de São Cristóvão”, contou a guia no início do tour de três horas.

“Com as obras recentes na região, muito foi descoberto em termos arqueológicos. Assim vemos o modo como lidamos com o nosso passado, com muita coisa sendo encoberta, escondida, propositalmente invisibilizada. O trabalho dos grupos de turismo é fazer esse resgate e tornar cada pessoa que faz os passeios conhecedora e multiplicadora e um fator de mudança nessa realidade”, afirmou.

O Morro da Conceição, a Igreja de São Francisco da Prainha e o Largo de São Francisco da Prainha, com suas atrações históricas e culturais, foram os primeiros locais a serem visitados. Outro ponto de efervescência cultural, a Pedra do Sal foi a parada seguinte. O Jardim Suspenso do Valongo e o Cais do Valongo, que detém o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), foram pontos de grande interesse do grupo. O circuito foi finalizado no Mural Etnias, de 2.500 m², na fachada de um antigo armazém do Cais do Porto pelo grafiteiro Eduardo Kobra. Pintado nas Olimpíadas de 2016, representa os cinco continentes.

Ponto de encontro foi no Museu de Arte do Rio (MAR) | Foto: Evelyn Soares

O grupo foi composto pela desembargadora aposentada do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) Ivone Ferreira Caetano e seu marido, Maurício Caetano; a juíza da Vara de Execuções de Medidas Socioeducativas, Lucia Glioche, e seu marido, o empresário Rafael Fernandes; o juiz da 2ª Vara Cível de Maricá, Vitor Porto, e seu irmão, Isaac Porto, assessor do programa LGBTI do Instituto Internacional Raça, Igualdade e Direitos Humanos; e o juiz Marcelo Piragibe, do TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais).

“[O passeio] Foi muito importante para romper com uma série de apagamentos históricos que tem se repetido ao longo do tempo, mas também como forma de perceber e reafirmar que não estamos falando de uma história que ficou no passado. […] Estamos o tempo inteiro na reencenação desta história”, afirmou Isaac.

Seu irmão, o juiz Vitor Porto, concordou: “Quando crescemos e na nossa formação, pouco disso é ensinado. É muito importante um passeio turístico nos mostrar onde aconteceu tanta história nossa”.

O magistrado Piragibe destacou que, por ser “de geração mais antiga, a história da África foi omitida das grades curriculares. Cerca de 57% da população brasileira se identifica com a cultura afro-brasileira e há um desconhecimento muito grande”.

Para a magistrada Lucia Glioche, “o passeio mostrou a história contada na versão atual. Pudemos vivenciá-la passando nos locais onde aconteceu, vendo na arquitetura como tudo aquilo que pensamos ser antigo ainda é atual. Nós, juízes, devemos ser sempre incentivados a estudar a história de todos os povos, principalmente do povo negro, que contribui”.

O encontro promovido pela AMB para auxiliar no resgate e na valorização da história e cultura negras ocorreu em mais cidades: Brasília (DF), São Paulo (SP), Piracicaba (SP), Salvador (BA), Olinda (PE), São Luís (MA), Ouro Preto (MG), Campo Grande (MS), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS).

Escadaria no Morro da Conceição | Foto: Evelyn Soares
Igreja de São Francisco da Prainha | Foto: Evelyn Soares
Grupo na Pedra do Sal | Foto: Evelyn Soares
Guia Raquel Oliveira conta a história do Jardim Suspenso do Valongo | Foto: Evelyn Soares
Cais do Valongo | Foto: Evelyn Soares
Passeio foi finalizado no mural Etnias, do grafiteiro Kobra | Foto: Evelyn Soares