Notícias | 05 de maio de 2011 15:37

Presidente da 6ª Câmara Cível se despede do TJ-RJ

De carregador de máquinas de escrever de uma empresa privada a desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Com esta trajetória, Gilberto Pereira Rêgo se aposentou ontem do TJRJ, durante sessão da 6º Câmara Cível da instituição, que presidia desde 2005. Gilberto Rêgo fazia parte do quadro de desembargadores do TJ-RJ desde 1998, quando ingressou pelo Quinto Constitucional dos advogados.

Durante a cerimônia, carregada de emoção, Gilberto Rêgo recebeu duas placas em sua homenagem, a primeira entregue pelo presidente do TJ-RJ, desembargador Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, e a outra pela desembargadora Tereza de Castro Neves. O presidente do tribunal também entregou ao magistrado a Medalha de Honra da Magistratura Fluminense e agradeceu a ele pelos serviços prestados ao tribunal. “Afirmo que, apesar dos problemas de visão, Gilberto Rêgo talvez seja quem enxerga mais longe dos que aqui se encontram”, disse Rebêlo. O procurador de Justiça Ricardo Alcântara Augusto Pereira também fez um discurso em homenagem a Rêgo, representando o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ).

Uniformização

Formado em direito pela Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas (FBCJ), em 1974, e especializado em Direito Civil e Penal, Gilberto Rêgo também atuou como diretor jurídico da empresa de Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro (Telerj). Segundo ele, a experiência ajudou na gestão de seus trabalhos, com a uniformização de procedimentos dentro do gabinete.

Ao deixar a função de desembargador do TJ-RJ, Rêgo afirma ter cumprido seu papel com dignidade. Como desembargador, ele diz sempre ter procurado julgar, em seus votos, com sentimento de justiça e não por meio da interpretação fria da lei. “Aprendi com os mais velhos que, ao tentar agradar a todos, você acaba não agradando ninguém. Por isso, julguei a favor e contra os pobres e a favor e contra os ricos, mas sempre a favor da Justiça”, disse.

Como professor assistente de Direito Judiciário Penal da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, Gilberto Rêgo confessou ter tido desilusões, pois sentia pouco interesse de seus alunos em aprender sobre a carreira jurídica. “Gostaria que a sociedade entendesse melhor o trabalho realizado pelos magistrados e os valorizasse mais, pois muitas vezes eles são tratados como vilões. Somos os mais importantes guardiões das regulamentações e, a todos os custos, fazemos valer a lei”, afirmou.

O magistrado destacou também qualidades que, segundo ele, seriam fundamentais para a formação de um bom juiz, como ética, competência e dignidade, características que, na opinião do ex-desembargador do TJ-RJ e membro da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio de Janeiro (OABRJ) Sylvio Capanema de Souza, o amigo “Giba” tem de sobra.

“Ao mesmo tempo que tenho uma saudade antecipada por perder seu convício quase diário, me orgulho em saber que ele teve sua missão de dever cumprida. Giba é um exemplo de dedicação para esse tribunal e sempre será lembrado pelas suas ações. Ele sempre julgou como um homem bom que é, mantendo o equilibro da justiça”, disse Capanema, citando o apelido pelo qual Gilberto Rêgo é conhecido entre os amigos na saudação feita em nome dos advogados.

O desembargador Nagib Slaibi, que conduziu a sessão, agradeceu as lições de aplicação prática da liberdade que recebeu de Gilberto Rêgo nestes anos em que esteve no TJ-RJ. “Cito como exemplo a defesa que ele sempre fez do consumidor em face dos altos juros bancários, inspirando-se na lição constante de seu amigo, recentemente falecido, o denodado e combativo vice-presidente José Alencar”, afirmou Slaibi.

Exemplo

O juiz auxiliar da 3ª vice-presidência do TJ-RJ, juiz titular da 18ª Vara Cível do Rio e filho de Gilberto, Werson Pereira Rêgo, disse ter decidido seguir a carreira do pai porque este lhe ensinou a honrar a toga mesmo antes de entrar para a magistratura. “Ele nos passou exemplos não só para a vida profissional como para a vida cotidiana. Nos ensinou a tratar com dignidade os menos favorecidos, pois é humilde e também teve uma vida difícil”, disse.

Presidente da Amaerj diz que Gilberto Rêgo é um exemplo a ser seguido por todos

O presidente da Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj), Antonio Cesar Siqueira, disse que Gilberto Rêgo deixará uma produção intelectual grande para o tribunal. “Enxergo em Gilberto Rêgo um exemplo a ser seguido por todos os magistrados brasileiros, pois ele sempre foi um lutador. Superou seus problemas de saúde relacionados à visão e fez sacrifícios pessoais, com sua enorme capacidade de lidar com o sofrimento”.

No plenário da cerimônia, estavam presentes os ex-presidentes do TJ-RJ, Miguel Pachá, Sergio Cavalieri Filho, Marcus Antônio de Souza Faver (atual presidente do Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça), Humberto de Mendonça Manes, José Lisboa da Gama Malcher, Antonio Carlos Amorim, Jorge Fernando Loretti e José Carlos Murta Ribeiro.

Também estavam presentes o 1º, 2° e 3º vice-presidentes do TJ-RJ, desembargadores Nametala Machado Jorge, Nascimento Antonio Póvoas Vaz e Antônio Ferreira Duarte, respectivamente, além dos desembargadores Pedro Freire Raguenet, Claudia Pires, Wagner Cinelli e Benedicto Abicair.

Fonte: Jornal do Commercio