O jornal “Monitor Mercantil” publicou o artigo “Música machista, não!”, escrito pelo desembargador Wagner Cinelli, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Músico e autor do livro “Sobre ela: uma história de violência”, o magistrado aborda no texto as canções brasileiras que desvalorizam a mulher.
“Nas artes, na literatura, na política, onde for, rejeitemos o machismo que nos circunda e muitas vezes nos chega de forma subliminar. É erva daninha que nos emaranha e sufoca. Façamos isso por uma sociedade menos desigual. E façamos isso já”, afirmou.
Música machista, não!
Faço minha caminhada virtual matinal e esbarro com uma sigla que não conhecia: MMPB. Não, não é MPB, mas MMPB, mesmo, e significa Música Machista Popular Brasileira. Entrei no site e percebi que o objetivo é expor o machismo impregnado em algumas canções. Não se trata de expor para divulgar, mas para conscientizar.
O machismo está na sociedade e é a base de ideias e práticas que valorizam o homem e desvalorizam a mulher. As artes refletem a sociedade, mas isso não quer dizer que estejam deliberadamente a serviço de uma causa machista. No caso da música, haverá composições com essa conotação, como também haverá canções exprimindo o contrário, ou seja, pela igualdade e contra a discriminação. Afinal, a arte é onde surgem movimentos de vanguarda, que questionam preconceitos e tabus.
Entendi então que o mmpb.com.br é apenas uma proposta para uma leitura crítica de músicas com carga machista. É uma contribuição para o debate da igualdade de gênero e do respeito à mulher. O próprio site se explica: “Por trás de toda música ‘inocente’, o reflexo de uma sociedade machista”. E segue: “Ah, o poder da música… Há quem ainda ignore, mas a música é um produto cultural que retrata e reflete o quanto nossa sociedade caminha a passos lentos com relação ao respeito à mulher enquanto indivíduo.”
Teclo no ícone “dá um shuffle” e vem a música Já já, do compositor Sinhô, cuja primeira estrofe é: “Se essa mulher fosse minha / Apanhava uma surra ‘já já’ / Eu lhe pisava todinha / Até mesmo eu lhe dizê ‘chegá’”.A mulher aqui é tratada como propriedade do homem e como se ele tivesse o direito de a agredir. Depois vem outra ameaça: “O teu cabelinho à inglesa / Eu mandava raspar ‘já já’ / Depois lixava a cabeça / Até ela gritar ‘chegá’”.
Mas essa obra é antiga, tanto que seu autor faleceu há quase 1 século. O próprio site destaca essa relação no sentido de quanto mais antiga a canção maior a chance de conteúdo dessa natureza. A antiguidade, entretanto, não desfaz a mensagem.
Novo shuffle e aparece uma música bem mais recente, Taca cachaça, de MC EdyLemond, cujo refrão é “Taca cachaça que ela libera”, que não deixa dúvida: embriagar a mulher para conseguir sexo. De um lado, a mulher-objeto, de outro, o homem predador se valendo de qualquer artifício para submetê-la à sua vontade. Outra busca e temos Lei do retorno, de MC Don Juan, com o verso “vou te comer e abandonar”, a dispensar comentário.
Mais uma chamada e surge Cabocla Tereza, com letra de João Pacífico, que, gravada por diversos famosos, traz a história de um feminicídio contada pelo vingador assassino. A lista é longa, e nela há músicas nas quais o preconceito de gênero aflora já no título, como Mulher não manda em homem, Vai, faz fila e Ajoelha e chora.
Nas artes, na literatura, na política, onde for, rejeitemos o machismo que nos circunda e muitas vezes nos chega de forma subliminar. É erva daninha que nos emaranha e sufoca. Façamos isso por uma sociedade menos desigual. E façamos isso já.
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