por Evelyn Soares
Juíza Simone Ferraz integra equipe de canoa havaiana, que busca apoio para prova no Havaí
Como é possível uma recomendação médica tornar atletas amadoras em um grupo de elite e transformar a vida de dezenas de mulheres? Determinação e uma série de realizações seria a resposta de Simone Ferraz. A juíza da 43ª Vara Criminal do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) é uma das idealizadoras do “Mulheres no Mar”, que usa a canoagem havaiana como motor para mudar as vidas das participantes assistidas.
No final de 2015, Simone recebeu um diagnóstico que a fez se reconectar ao mar. Dedicou-se a aprender a canoagem havaiana – também chamado canoagem polinésia, esporte de remo em que os participantes ocupam uma embarcação, com flutuador lateral. Depois de não conseguir concretizar a ideia de formar uma equipe, ela criou o projeto social em 2016, com a advogada Ivana Alcântara.
“Os equipamentos e a manutenção são caras, o que, por si só, torna o esporte excludente. Então, criamos o projeto com o foco em grupos de mulheres economicamente hipossuficientes, pacientes de câncer de mama em recuperação com indicação de fisioterapia, vítimas de violência doméstica ou que residam em comunidades dominadas por tráfico”, conta Simone.
Educadores físicos promovem aulas de canoagem, individual ou em grupo, e, a cada dois meses, são realizadas palestras sobre temas como saúde da mulher, direitos humanos e violência doméstica. Inicialmente, oito mulheres integravam o grupo. Hoje, são 22 com mais esperança de transformar suas realidades.
Acúmulo de pódios
Assim como a canoa V6 – de seis ocupantes – tem o flutuador lateral para equilibrá-la, o projeto precisa do apoio de patrocinadores para continuar. “A pauta positiva, de empoderamento feminino, não é suficiente. Para chamar a atenção das empresas, montamos duas equipes de competição, com atletas amadoras com um alvo: vencer todas as competições”, falou a juíza sobre o ambicioso plano.
Desde 2017, a preparação é intensa. Com treinos diários, das 6h às 8h de segunda-feira a sábado, as equipes Master 50 (atletas de 50 a 60 anos) e Master 40 (atletas de 40 a 50 anos) saem da base da Praia de São Francisco, em Niterói, e remam cerca de 40 km. No trajeto, passam pela barra da Baía de Guanabara em direção às Ilhas Cagarras (orla da Zona Sul do Rio), à Praia de Itaipu (Niterói) e à Barra da Tijuca (Zona Oeste carioca).
Os resultados são expressivos: na categoria Velocidade, a equipe Master 50 é campeã no Estado do Rio e vice-campeã brasileira. É, também, bicampeã 2017- 2018 da Maratona.
“Realizamos 35 provas e conquistamos 35 pódios, em provas e competições estaduais e nacionais. Usamos como imagem para as mulheres que estão no projeto social para dizer que é possível fazer. Depende de determinação, vontade e oportunidade”, explicou a magistrada, capitã da equipe.
Assim, obtiveram o patrocínio das empresas Águas de Niterói e MXM Sistemas, plataforma voltada ao aprimoramento de gestão empresarial. Para o próximo desafio, o projeto precisará de ainda mais auxílio. O grupo foi convocado para representar o Brasil no Campeonato Mundial de Velocidade, que acontecerá em Hilo, no Havaí, em agosto de 2020. A competição acontece de dois em dois anos.
“Teremos muita satisfação em participar da disputa no Havaí, mas precisamos de R$ 60 mil para viabilizar os custos de passagens aéreas e inscrições de seis atletas.”