AMAERJ | 29 de janeiro de 2019 10:07

Revista FÓRUM: Entrevista com o futuro diretor-geral da EMERJ

Novo diretor geral da EMERJ inspirou-se no pai e no avô magistrados

Inspiração no passado, olhar para o futuro

Desembargador André Andrade será o diretor-geral da EMERJ no biênio 2019-2020

Por EVELYN SOARES

A dedicação ao ensino é um das características relevantes da família Andrade. Neto e filho de magistrados e professores, o futuro diretor-geral da EMERJ (Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro), desembargador André Gustavo Corrêa de Andrade, teve, em casa, o exemplo para inspirá-lo em sua carreira acadêmica e profissional.

A escolha pelo Direito o levou à Universidade Candido Mendes (Ucam), onde se graduou em 1984 e, anos depois, se tornou mestre e doutor. Em 1990, teve o primeiro contato com a Escola da Magistratura do Rio, ao passar em concurso público para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Até então, trabalhava como promotor de Justiça. Andrade, agora, mira no legado que deseja deixar para a EMERJ.

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FÓRUM: Como o seu passado inspirou suas escolhas?

ANDRADE: Meu pai [desembargador Luiz Antônio de Andrade] teve grande influência na minha escolha pelo Direito e nos meus passos. Ele foi o primeiro presidente do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro) após a fusão do Estado do Rio de Janeiro e o da Guanabara. Foi um período complicado, e ouvi de seus contemporâneos que ele teve muita habilidade para fazer a transição. Mesmo com todo o poder de um magistrado e presidente de Tribunal, sempre foi simples, humilde e amigo das pessoas. Tratava a todos com carinho e respeito. Talvez este seja seu maior legado para mim.

Além de ser um exemplo de conduta, foi um grande intelectual. Até o fim da vida, aos 85 anos, nunca deixou de buscar o conhecimento. Ele me dizia que seu ídolo era seu pai, meu avô, Odilon de Andrade. O amor aos livros foi herdado dele. Meu pai dizia que ele também, até falecer, aos 82 anos, lia e estudava até língua portuguesa.

Não me comparo a eles porque foram gigantes, mas tento me espelhar neles. Eles são o exemplo de que estamos sempre aprendendo e, cada vez mais, vemos o quanto não sabemos de nada. Por isso temos que estar sempre estudando.

FÓRUM: Que relação o sr. tem com a EMERJ ?

ANDRADE: Desde o início da minha carreira, indiretamente, a EMERJ esteve presente. O desembargador Claudio Vianna de Lima, patrono da Escola, foi meu professor na Candido Mendes e
me indicou para meu primeiro estágio. Quando passei para a magistratura, em 1990, fiz parte da primeira turma de juízes da EMERJ. Éramos 13, fomos a turma-piloto. Tivemos um mês de preparação antes de começar a atuar como juízes. Em 1993, comecei a dar aulas na Escola. Atuei como juiz-coordenador de cursos durante a gestão do desembargador Sérgio Cavalieri. Ainda hoje dou aulas e coordeno cursos. Então, a EMERJ é como a minha segunda casa. Eu a vi em seus primórdios. A escolha dos meus pares me deixa feliz e honrado.

FÓRUM: Quais seus objetivos à frente da EMERJ ?

ANDRADE: O primeiro é aproximar os mundos acadêmico e prático da magistratura. Desejo, de alguma forma, que os magistrados sejam estimulados a fazer mestrado e doutorado. Vou buscar convênios ou parcerias com instituições de ensino superior no Brasil e no exterior, para tornar esta meta realidade.

Isso está ligado ao segundo objetivo, que é internacionalizar a EMERJ. Vivemos em um mundo globalizado, o que significa que podemos ter exposição de professores e personalidades estrangeiras. A intenção é propiciar ao magistrado contato com o que acontece ao redor do mundo. Temos problemas peculiares e nossas formas de enfrentá-los, mas há questões semelhantes em outros países. Essas oportunidades serão para entender a quais soluções chegaram para combatê-los. Não se trata de querer importar soluções melhores apenas por serem de outro país, mas é a chance de nos abrirmos a novas possibilidades para, eventualmente, aproveitar o que há de bom lá fora e adaptá-la, de forma própria, aos nossos problemas.

Outro ponto é aperfeiçoar os cursos promovidos pela EMERJ – de preparação, de iniciação e de aperfeiçoamento. É importante revisar os materiais e os conteúdos programáticos. Na era da informação, é essencial que a Escola esteja atualizada. Tudo será feita em colegiado, inclusive a análise pedagógica e didática. O objetivo é repensar e melhorar para que a Escola continue com sua excelência.

FÓRUM: O que o fez se candidatar a dirigir a Escola da Magistratura?

ANDRADE: Toda minha trajetória profissional é pontuada pela EMERJ, desde minha participação na primeira turma de iniciação aos cursos e aulas que ministrei ou coordenei. Acredito na educação como ferramenta de transformação individual e social, e que o estudo e o conhecimento são chaves para a nossa evolução. Vejo que, assim como a Escola auxiliou a minha formação, tenho o dever de contribuir com ela. Na minha gestão, espero unir minhas duas paixões, as vidas acadêmica e da magistratura. A causa da Justiça também me inspira. Vejo-a como algo fundamental, e que devemos alimentá-la e nos preparar constantemente para atendê-la.

FÓRUM: O sr. leciona na EMERJ desde 1993 e já coordenou diversos Cursos de Iniciação de Magistrados. Como suas experiências na Escola podem influenciar sua gestão?

ANDRADE: Por já ter vínculos com a EMERJ, enxergo que é necessário se modernizar. Depois de ser juiz-coordenador à época do desembargador Sérgio Cavalieri, passei a atuar como professor e coordenador em alguns cursos.Tenho uma ideia global de como funciona a EMERJ na área de docência, mas a parte administrativa será um aprendizado. Como magistrado cível, lidamos com problemas da sociedade cotidianamente. Isso me dá a visão, ainda que específica, da área de atuação, de alguns problemas que devemos estudar e trazer soluções. Também tenho ouvido colegas com boas ideias. Vou me reunir quantas vezes forem necessárias com quem queira contribuir.

FÓRUM : Vivemos na era digital. O sr. citou, em entrevistas passadas, que devemos transformar o excesso de informação em conhecimento crítico e prático.

ANDRADE: Hoje, vivemos na era da informação, no mundo digital. Há facilidade em acessar uma quantidade brutal de informações, os dados brutos que nem sempre são confiáveis. Um dos efeitos disso é o problema seriíssimo das fake news. A tecnologia possibilitou o acesso a uma gama de informações gigantesca. A questão é o que fazer com todo esse material? O papel das instituições de ensino superior e da EMERJ é fazer com que pensemos de forma crítica. A internet não nos dá essa ferramenta de forma automática. Para alcançar esse ponto, às vezes é necessário ter quem nos guie. Por isso reforço a importância da busca do conhecimento, seja por cursos ou mestrados e doutorados. Temos que formar pensadores, porque vivemos em época de excesso de informações, muitas de fonte duvidosa. A verdade, hoje, é relativizada. Temos que acreditar que existem valores e objetivo, direitos inalienáveis e fundamentais. Para mudar e expor essa visão, a discussão crítica e o estudo teórico são essenciais. Temos que parar com a “standardização” do conhecimento, de transformar o conhecimento em algo trivial e de rápida assimilação.

Vivemos um mundo polarizado em diversos países, com a manipulação de informações. As pessoas acreditam nos maiores absurdos sem questionar. Vivemos em uma era em que não basta ter informação e aceitá-la como verdade absoluta. Temos que trabalhar, inclusive na EMERJ, o pensamento crítico.

FÓRUM : A EMERJ completou 30 anos em 2018. Quais transformações o sr. observou na Escola?

ANDRADE : A Escola se profissionalizou. Hoje, praticamente, tem gestão própria. Mesmo fazendo parte da estrutura do Tribunal de Justiça, tem considerável autonomia financeira. Essa foi a grande conquista da Escola e um grande passo para que seja de excelência, exemplo no Brasil e que não deixe a desejar a outras no mundo.

FÓRUM : Como a Escola é vista e como pretende deixa-la para a próxima gestão?

ANDRADE : Hoje, é vista como a melhor do Brasil. Ouço elogios de profissionais de outros Estados, impressionados com a estrutura da Escola. Eles ficam honrados e prestigiados por serem palestrantes e professores. Isso mostra sua importância e demonstra que devemos cuidar muito bem dela pra que tenha esse prestígio intocado.

Para o futuro, pretendo deixar uma EMERJ mais moderna, conectada com a tecnologia. Temos que aprimorar o ensino à distância, para prover os magistrados do interior que não têm a chance de vir à capital para estudar. Desejo aproximá-la da comunidade jurídica em geral e de outras áreas da Justiça.

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