O jornalista Elio Gaspari, do Globo e da Folha de S.Paulo defendeu neste domingo decisão da juíza Vanessa Cavalieri, em coluna neste domingo (26).
Leia a coluna:
A juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e da Juventude do Rio, ouviu o professor Bernardino Matos, diretor de uma unidade do sacrossanto colégio Pedro 2º, dizer que nunca ouvira falar de um caso de abuso sexual de uma estudante de 12 anos, ocorrido em 2015. Vapt-vupt, deu-lhe voz de prisão por falso testemunho e remeteu-o à 15ª Delegacia de Polícia. Ele se retratou e a juíza informou que o doutor mentiu para tentar preservar a instituição.
Se ele disse isso, foi um delírio irresponsável e megalomaníaco. A conduta do professor e da hierarquia do colégio empulharam o público ao longo de dois anos e atentaram contra o bom nome do Imperial Colégio Pedro 2º, fundado em 1837. Ele é tão especial que a Constituição garante sua permanência na órbita do governo federal. (Art. 242 § 2º.) Lá lecionaram Gonçalves Dias e Heitor Villa-Lobos e estudaram o Barão do Rio Branco e Rodrigues Alves. Como ninguém pode saber o que a vida fará da garotada, estudou também o deputado Jorge Picciani.
Desde 2015 a hierarquia do colégio varreu para baixo do tapete o caso da menina abusada sexualmente em três ocasiões, com a existência de um vídeo colocado na internet e com ameaças às colegas cujas famílias denunciavam o episódio. Em nota oficial, chegaram a acusar os pais por afirmações “difamatórias e inconsequentes”. A direção da escola limitou-se a determinar que os três delinquentes juvenis, de 15 a 17 anos, concluíssem o ano letivo e fossem embora. Afirmar que eles foram expulsos é uma falsidade. Apesar dos pedidos de oito mães, os sábios não encaminharam o caso ao Conselho Tutelar. As mães o fizeram.
Segundo os doutores, tratava-se de preservar os menores. É difícil entender. Fica mais fácil louvar a juíza, que pôs um fim a uma conduta insensível, autoritária e de legalidade discutível dos hierarcas, todos adultos que provavelmente já tiveram filhas de 12 anos.
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