AMAERJ | 26 de outubro de 2017 16:45

Revista FÓRUM: Acervo do jurista Raymundo Faoro

Coleção é a joia da Procuradoria Geral do Estado do Rio

POR SERGIO TORRES

Os 9.200 itens da Coleção Raymundo Faoro estão acessíveis ao público na Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro. O acervo deixado pelo jurista, cientista social, escritor e historiador é precioso. Reúne obras dos séculos 19, 20 e 21, primeiras edições de clássicos da literatura e vasta quantidade de anotações e comentários acerca de muito do que lia.

A coleção foi adquirida pela PGE à família Faoro em 2013. Membro da Academia Brasileira de Letras, ele morrera dez anos antes. O acervo foi catalogado pelos bibliotecários do Centro de Estudos Jurídicos (Cejur) da Procuradoria.

A procuradora-assistente do Cejur, Nathalie Giordano, diz que a PGE quer receber mais visitantes na Biblioteca Marcus Juruena Villela Souto, de 65 mil volumes, a que o acervo Faoro está integrado. Hoje, são de 60 a 70 as frequências diárias de estudantes, pesquisadores e advogados. “A Coleção Faoro era um segredo guardado na PGE, uma joia. Queremos muito que as pessoas a conheçam. A Procuradoria vela por esse acervo”, afirma ela.

A coleção está na sede da Procuradoria, com ambiente para consulta e leitura. “É uma biblioteca especial, de muito valor. Faoro escreveu ‘Os Donos do Poder’ (sua obra clássica, de 1958) ao longo de mais de dez anos. Usou, como referência, obras que estão nesta biblioteca”, conta Nathalie.

Faoro foi procurador do Estado do Rio. Ingressou em 1963, aprovado no primeiro concurso da PGE. O acervo que juntou em quase sete décadas aborda temas como filosofia, história, ciência política, literatura, geografia, economia, administração, antropologia, Direito, ecologia e artes em geral.

Para o bibliotecário Thiago Cirne, o material é exemplar das preferências do jurista. “A coleção reflete bem o gosto do Faoro leitor.” Ler era uma atividade a que Faoro se dedicava com afinco e afeição. Milhares dos livros e periódicos ainda conservam vestígios de sua leitura e manuseio, como marcadores adesivos em páginas que o interessavam. “A grande quantidade de marcações indica que Faoro dissecava o livro”, observa o bibliotecário.

Catálogo com todos os itens da Coleção Faoro está à disposição para consultas ao acervo. Para acessá-lo, a pessoa deve ir ao primeiro andar da Procuradoria, à Rua do Carmo, 27, Centro. A biblioteca e o acervo Faoro podem ser visitados das 10h às 17h, em dias úteis. Não é preciso agendar. As dúvidas podem ser tiradas pelo e-mail biblio@pge.rj.gov.br ou pelo telefone (21) 2332-7314.

O Cejur é o setor da PGE destinado ao estudo, à preservação da história e à manutenção dos acervos. “Somos voltados ao ensino, ao aprimoramento. Nossa política é a de preservação e também de formação da biblioteca, atraindo aquisições importantes”, diz Nathalie.

Nascido em Vacaria (RS) em 27 de abril de 1925, Raymundo Faoro notabilizou-se não só como jurista. Atuou, também com muito êxito, como sociólogo, historiador, cientista político, jornalista e autor de destaques da literatura nacional, como “Os Donos do Poder”. No livro, ele analisa a formação sociopolítica do Brasil, com foco na questão do patrimonialismo, que indica como característica da sociedade brasileira. No regime militar, Faoro presidiu a OAB. Foi ainda membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito em 2000, na vaga do também advogado (e jornalista) Barbosa Lima Sobrinho.

A família Faoro se origina de Arsiè, região na fronteira da Itália com a Áustria. Raymundo era filho dos lavradores Attilio Faoro e Luisa D’Ambros, que imigraram para a Região Sul. Formando em Direito em 1948 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faoro veio três anos depois para o Rio, onde trabalhou como advogado. Em 1963, aprovado em concurso público, tornou-se procurador do Estado, função na qual se aposentaria.

O envolvimento com o jornalismo remonta ao período universitário. Foi cofundador da Revista Quixote, em 1947, tendo escrito textos para jornais do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Na presidência da OAB, de 1977 a 1979, defendeu o fim dos Atos Institucionais e teve participação efetiva na consolidação do processo de abertura democrática a partir da segunda metade dos anos 70.

Historiadores daquele momento complicado da política brasileira apontam que, sob o comando de Faoro, a OAB foi a frente de resistência da sociedade civil contra a ditadura. Entre as campanhas que o então presidente da OAB engajou-se estava a da anistia aos presos e exilados políticos.

Em “Os Donos do Brasil”, Faoro mostra que a estrutura patrimonialista baseada em corrupção e burocracia, ainda hoje marca da sociedade brasileira, data do período colonial, trazida pela elite portuguesa estabelecida no País. Aos 78 anos, Faoro morreu no Rio em 15 de maio de 2003, vitimado por um enfisema pulmonar.

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