Juiz de Direito Everton Villaron de Souza
1ª Vara Criminal – Governador Valadares / MG
Em uma comarca distante dos rincões de Minas Gerais, as eleições corriam muito acirradas, sendo disputadas pelos dois partidos dominantes mais conhecidos como “pica-pau” e “corta-guelas”. As disputas eram enormes, e até mesmo tiroteios ocorriam entre as facções.
O Juiz Eleitoral, moço novo, vindo da Capital, tinha assumido aquela primeira comarca e ainda não conhecia os bastidores envolvendo as disputas entre as facções, que desconheciam as leis eleitorais e partiam para todo tipo de desavenças, tornando a jurisdição do Juiz algo quase insuportável, devido as reclamações diárias envolvendo os políticos locais. Chegado o dia da eleição, o Juiz novato decide ir pessoalmente a cada seção eleitoral, verificar se os trabalhos estavam transcorrendo normalmente.
A tecnologia ainda não existia, e o voto era em cédulas de papel, sendo que as cabines eram improvisadas: algumas com tapumes, outras com papelão, e algumas eram fechadas com uma cortina ao redor.
Chegando, de improviso, em uma sessão eleitoral, todos ficam apreensivos com o novo Juiz moço estudado que veio da Capital! Os moradores da roça, em sinal de reverência, tiram os chapéus e as mulheres ficam olhando para o chão. Da mesma forma, comportam-se os mesários, todos moradores da localidade.
Eis que, de repente, o Juiz olha assustado e vê um sujeito saindo por debaixo da cortina que, improvisadamente, tornava indevassável a seção eleitoral. O caboclo da roça rastejava no chão feito uma cobra e com ar de apavorado! Pergunta o Juiz ao Presidente da Mesa o que estava acontecendo, e esse vai falar com Tião, o eleitor que rastejava feito cobra.
Tião explica que não conseguia puxar a cortina e sair daquela cabine, por mais que tentasse, apavorado com a presença de Sua Excelência, resolveu sair por debaixo, rastejando feito cobra, com medo de ser preso por demorar na cabine.
Recomposto do susto, o Juiz novato vai embora, despedindo-se de todos e recomendando que consertem a cortina que tanto embaraço causou ao capiau. Prossegue ele na sua inspeção eleitoral, naquele sertão de fim de mundo, pensando no seu “eleitor-cobra”!