Notícias | 03 de novembro de 2015 10:53

Filósofos na defesa dos animais

* Gilberto Pinheiro

Sigo meu destino na defesa dos animais, enfatizando o inalienável direito à vida desses seres sencientes, à luz da dignidade.   Não poderia ser diferente, haja vista o entendimento que trago em meu ser e nada irá demover-me desse ideal. O bom senso orienta que devemos ser justos para com todos os seres vivos, respeitando-os, deixando-os viver em toda plenitude. A vida é direito de todos os seres que habitam a Terra.

Tento fazer modestamente minha parte, embora seja eu um eterno aprendiz, sempre parafraseando o maior pensador que o mundo ocidental conheceu – Sócrates, o venerável mestre de Platão que configurava sua vida contemplativa na máxima – Só Sei Que Nada Sei e em outro emblemático aforismo – Conhece-te a Ti Mesmo! Eis a síntese do entendimento para chegarmos à verdade!

Infelizmente, o pensamento segregacionista ainda tem forte influência no mundo contemporâneo, trazendo a reboque a concepção especista, segregando animais, vendo-os como seres inferiores e “máquinas”, exatamente como pensava René Descartes nos idos do século XVII.

O ranço antropocêntrico ainda tem raízes profundas, influenciando o homem atual, colocando os animais em patamar de inferioridade e subjugação, como ainda consta no Código Civil Brasileiro em seu artigo 82, conceituando-os como seres semoventes, bens de propriedade e…….”coisas”. Espera-se reforma ampla nesse Código e que o artigo citado seja suprimido. Não cabe mais nos dias atuais esse entendimento retrógrado e injusto.

Tal discussão para mudança de entendimento tomou conta de dois pensadores influentes e contemporâneos e, em síntese, destacarei o que pensavam esses opositores da concepção cartesiana .

PETER SINGER – FILÓSOFO AUSTRALIANO E PROFESSOR NA UNIVERSIDADE DE PRINCENTON NOS EUA

Suas considerações contrárias ao especismo aludem que todos os seres vivos e sencientes são capazes de sofrer como todos nós, devendo ter seus interesses considerados de forma igualitária. Faz alusão à crueldade contra os animais que são abatidos para a alimentação humana, algo injustificável. Condena também a prática de vivissecção em animais nos centros de pesquisa e universidades, utilizando-os como cobaias para fins científicos. Seus proficientes estudos e considerações em favor dessas vidas, motivou-o a escrever o livro Libertação Animal.

TOM REGAN – FILÓSOFO E PROFESSOR EMÉRITO DE FILOSOFIA NA UNIVERSIDADE DE CAROLINA NO NORTE – EUA

Durante um período de sua vida, paradoxalmente, foi caçador, deleitando-se com esta modalidade “esportiva”(?). Todavia, à luz de um insight, interessou-se pela vida de Gandhi, lendo algumas biografias do grande humanista que entendia a vida mergulhada no pacifismo e, consequentemente, trazendo consigo a ideia de não violência. É autor do livro Jaulas Vazias.
Contrapôs-se ao pré-iluminista René Descartes com sua teoria preconceituosa em relação aos animais, vendo-os como seres a serviço do homem em amplo espectro, inclusive, como cobaias em laboratórios para fins de pesquisas científicas. Infelizmente, o pai do pensamento lógico e que cunhou a frase “penso, logo existo”, não tinha visão ampla da vida, influenciando negativamente todo pensamento , conspirando contra a vida dos animais.

VOLTAIRE (Filósofo Iluminista – Século XVIII) CRITICA A CONCEPÇÃO CARTESIANA

Já citei em artigo anterior uma das críticas mais irônicas contra René Descartes, por parte do filósofo e iluminista Voltaire, em seu livro Dicionário Filosófico. Voltaire defendia a vida animal e criticou com íntima sagacidade as palavras de Descartes, iniciando exatamente assim:

” Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que não aprendem, nada aperfeiçoam (…)”

CLAUDE BERNARD E A NEFASTA INFLUÊNCIA DE DESCARTES EM SUAS PESQUISAS CIENTÍFICAS

Ao final do século XIX, Claude Bernard, famoso fisiologista daquela época, pensava como Descartes, entendendo que os animais nasceram para a subjugação e, portanto, para servir à Humanidade como cobaias em experiências científicas. Mantinha no sótão de sua casa um biotério para fins dessas crueis e sanguinárias pesquisas. Sua esposa e filha não suportando o sofrimento dos animais, sendo mutilados sem anestesia, abandonaram-no, indo morar em Paris, fundando a primeira instituição na defesa dos animais.

IMPERIOSA NECESSIDADE DE MUDANÇA DE PARADIGMAS

Os tempos atuais são outros – exigindo a limpeza do pensamento cartesiano e perverso em relação à fauna.
Portanto, urge que a sociedade atual modifique seu entendimento e, para isso, ampla divulgação com palestras educativas, artigos para publicação em jornais sobre a causa animal e que as escolas e universidades sejam redutos superiores na educação de alunos sobre a senciência dos animais.

MEU TRABALHO NA CONSCIENTIZAÇÃO DE ALUNOS EM ESCOLAS E UNIVERSIDADES, ALÉM DE ARTIGOS

Tento fazer a minha parte mas sou apenas uma célula num grande tecido na formação de nova consciência e espero que Deus me inspire para que eu seja justo, sábio e proficiente professor, ensinando o que aprendo com minha exclusiva dedicação, estudando continuamente pelo bem dos meus irmãos animais.

Como consta na letra musical ” quem sabe, faz a hora, não espera acontecer”, sigo meu rumo na intransigente defesa da vida animal, pois nenhum ser senciente merece sofrer. A vida é direito inalienável de todos – a vida quer assim!
Que o amor seja incondicional, afinal, nada justifica a crueldade contra os animais.

Gilberto Pinheiro é jornalista, palestrante em escolas e universidades sobre a senciência dos animais