* Gilberto Pinheiro
Quando temos um forte ideal a guiar nossos passos, não podemos desistir jamais de nossos objetivos. Assim eu penso, assim eu ajo nesta minha efêmera vida de rotineiro aprendizado. A dedicação à causa animal enquadra-se neste contexto e jamais abrirei mão desta prerrogativa. A senciência dos animais tem desdobramentos que, a cada dia que passa, se revelam, sensibilizando multidões. Na verdade, ainda temos muito a aprender sobre o referido assunto e confesso ser um eterno aprendiz.
À luz destas iniciais palavras, ensejo reportar-me a um fato muito interessante, algo verdadeiro e que serve de referência para nossas reflexões: a sensibilidade dos elefantes.
E, para melhor exemplificar a referida questão, destaco um fato realmente atípico, quando se trata de gratidão animal. Tudo começou com Lawrence Antony, escritor sul-africano que amava os elefantes, dedicando sua vida ao resgate dos mesmos das mãos de caçadores ou crueis predadores de animais e, inclusive, resgatou muitos destes animais do Zoológico de Bagdá, após a invasão dos EUA ao Iraque em 2003.
Ele vivia constantemente na selva, estudando o comportamento dos paquidermes, fotografando-os, filmando-os, sempre tratando-os com imenso respeito e amor, como se fossem seus verdadeiros irmãos e amigos. De sua experiência com estes animais, surgiu o livro O Encantador de Elefantes, de sua autoria que virou best-seller. Era sua grande paixão protegê-los dos predadores humanos, estar sempre com eles e, a intimidade era tanta, que pareciam “falar” a mesma linguagem, tendo a mesma sintonia, a interação perfeita entre o escritor e os animais.
Este contato durou muitos anos, assim como a alegria deste convívio harmonioso. o bem conspirava a favor e os elefantes eram sua segunda família. Mas, nem sempre o sol brilha e, aos 62 anos, Lawrence falecera repentinamente. Ele que estava constamente com os elefantes começou a fazer falta aos animais.
Depois de esperarem dias pela presença do grande encantador de elefantes que não surgia, os mesmos “perceberam” que havia algo errado e, coincidentemente, dois grupos destes animais resolveram marchar em direção à casa dele, saindo de locais diferentes, caminhando 21 km. Depois de 2 dias de marcha, chegaram à residência do amigo e lá ficaram parados em absoluto silêncio, também por 2 dias, sem se alimentarem. Pareciam saber da morte do grande amigo. O olhar dos animais era de íntima tristeza.
A esposa de Lawrence comoveu-se profundamente, pois reconhecia nos animais a gratidão, o agradecimento pela proteção durante anos a fio. Depois de 2 dias, ambos os grupos partiram silenciosamente em direção à floresta e jamais retornaram. Despediram-se do amigo para sempre.
Ora, como explicar o comportamento dos animais indo à casa do grande amigo?
Isso é senciência animal, percepção, sensibilidade aflorada, pois quando há total empatia entre humanos e animais os mesmos percebem o que ocorre conosco, sabendo se estamos tristes, alegres, doentes ou não.
Há uma teoria que tenta explicar o fenômeno sendo conhecida como Campos Mórficos de Rubert Sheldrake, cientista inglês que teoriza a questão, afirmando ser íntima ligação de pensamento, no caso humano e animal, sintonia perfeita entre eles.
Evidentemente que ainda está no campo da especulação científica, portanto, ainda inconclusivo. Mas, o que importa é que os elefantes reconheciam no escritor um grande amigo e defensor e por gratidão, reconhecimento, foram à sua casa, possivelmente, “percebendo” a morte dele. Os elefantes têm sensibilidades afloradas como todos os demais animais e a saudade se manifestou, levando-os à casa do grande amigo ausente.
Creio que a sociedade mundial precisa rever seus conceitos em relação à toda fauna existente na Terra. Nada mais justifica a exploração, a subjugação, os maus-tratos, enfim, tudo que prejudica os animais.
Sou um grande idealista na defesa desta causa, assim como entendo que os animais somente serão respeitados quando as escolas atentarem que não dá mais para postergar decisão e entendimento que a senciência dos animais é algo que chegou para ficar, para modificar paradigmas e que o antropocentrismo, o especismo, não têm mais vez nos dias de hoje.
Lawrence Antony, o grande encantador dos elefantes, é um exemplo a ser seguido e que precisa ser lembrado nas escolas, universidades, em todos e quaisquer lugares como referência de elevação na defesa dos animais, no caso, elefantes, mostrando ao mundo que amar e respeitar a fauna é necessidade imperiosa e se merecemos viver com dignidade os animais também merecem. Quando a compaixão se manifestar no coração humano a Terra será um lugar aprazível de se viver em harmonia com a natureza e, para isso, só depende de nós.