* Peterson Barroso Simão
São duas palavras distantes, mas reunidas representam o fruto da sabedoria humana. O poder, ao qual me refiro, é aquele que traz grandes consequências positivas ou negativas para muitas pessoas, quer no campo político, econômico, jurídico, administrativo, quer na liderança da população de algum modo. A humildade, por sua vez, é a virtude essencial que deve existir nas condutas daqueles que exercem o poder. Bons exemplos, neste diapasão de ideias seriam, dentre tantos: Schindler, aquele empresário do conhecido filme que retrata fato verdadeiro ocorrido em 1944-1945, não visava só lucro, mas se preocupava, acima de todos os interesses, com a condição humana daqueles que se encontravam sob sua responsabilidade.
O magistrado que tem o po-der-dever de condenar o acusado a uma pena que varia entre 12 a 30 anos de reclusão e, levando em conta as circunstâncias judiciais favoráveis, as provas, a primariedade e as atenuantes, fixa a punição no mínimo legal. Ou então, o Juiz de Direito, que no litígio entre pai e mãe, ambos pretendendo a posse e guarda definitiva dos filhos, decide que estes devem ficar com a avó, considerando o melhor interesse das crianças, a vontade manifestada, os laudos e o sério vício constatado dos genitores. Neste segmento, a Magistratura Brasileira tem visto um importantíssimo exemplo de poder equilibrado e bem exercido com coragem, sensibilidade, determinação, moderação e simplicidade, sem deixar o rigorismo da lei, proveniente dos atos do Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, cujo histórico profissional já antevia tal inteligência e respeito à população e aos jurisdicionados, cumprindo o compromisso maior com a Justiça Fluminense.
Outra lembrança deste somatório (poder e humildade) seria o que conta a história sobre os últimos dias de João Goulart como Presidente. Independente do mérito ou não de seu mandato, é preciso reconhecer um ato de grandeza: muitos queriam que ele resistisse no poder e tinha condições para isso, sobretudo em vista do apoio que viria do Sul. Mas ele não queria que houvesse “derramamento de sangue” e nem o sofrimento maior do povo. Assim sendo, mesmo tendo argumentos favoráveis para permanecer, encontrou asilo no Uruguai, evitando tragédia e turbulência no País. Contudo, é o Papa Francisco que mostra com clareza solar que só existe poder respeitado, equilibrado e contínuo onde existe a humildade. É alguém que trabalha pela paz mundial e a felicidade dos povos com tanta simplicidade que o amor por onde ele prega floresce em fraternidade. Resume o Santo Papa: “A verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração”.
Infelizmente, tem sido enorme a busca por outros caminhos que, pela falta de humildade, prudência e respeito, prejudica a todos. Abraham Lincoln já advertira que “se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. É verdade. Como que se revela fácil e rápido o caráter do homem embriagado do poder que lhe sobe à cabeça.
Alguns, quando chegam ao poder, têm dificuldade em conservá-lo. Outros detentores de grande potencial econômico, dirigindo milhares de empregados, com uma só assinatura, modificam vidas, geralmente para pior. Por outro lado, a maioria dos líderes que se apresentam, quer cada vez mais poder e os abusos podem ocorrer sorrateiramente. Na ausência de humildade no poder, surgem com intensidade, a arrogância, a vaidade e a prepotência como instrumentos da soberba e, ao mesmo tempo, da insegurança. Neste caso não há limites, gerando a ambição e a falsa ideia de impunidade. Chegar ao poder não se mostra pretensão dificílima. O que se torna bastante difícil é o exercício e a manutenção do poder de forma equilibrada e justa. Quando alguém sai da vida pública, mas fica de consciência tranquila por só ter trabalhado por bem-servir e fazer o bem, esse cumpriu sua missão. E, enfim, pode descansar com todas as honras e glórias. Certamente, será sempre lembrado com muita satisfação. Torna-se paradigma e marco de referência no relacionamento humano e profissional de forma natural e sensata. Então, é preciso que se entenda: quanto maior o poder, maior deve ser a humildade ao exercê-lo. Incrível, mas o primeiro só se torna sucesso se vier acompanhado daquela virtude na mesma proporção. Aqueles que possuem os dois vencem, fazem as pessoas felizes e próspero o lugar. Logo, aceitar os erros e corrigi-los em tempo hábil é sinônimo de maturidade e responsabilidade. E, é desse equilíbrio que a humanidade tanto precisa.
Não se pode esquecer que o cidadão poderoso acaba tendo o mesmo final de um honrado cidadão comum. Na maioria das vezes, a segunda situação é bem melhor. Portanto, seja qual for a trajetória, sejamos sempre bons, com responsabilidade, reta consciência e simplicidade.
Peterson Barroso Simão é desembargador do TJ-RJ e membro da Academia Fluminense de Letras
Fonte: Jornal do Commercio