Notícias | 28 de agosto de 2015 05:55

Até quando será assim? Desrespeito à vida animal

* Gilberto Pinheiro 

Às vezes, dá impressão que o mundo gira para o ser humano, sendo ele o senhor absoluto  de tudo.

Nesse contexto, a vida parece conspirar a seu favor e as demais manifestações de vida são meros coadjuvantes no teatro da vida e o homem o grande protagonista.    O ser humano se acha insuperável, embora dependa da Natureza para tudo.   Na verdade, se a nossa espécie não existisse a natureza seguiria um curso melhor, protegida, afinal, o maior predador da face da Terra é o homem e isso é inconteste.

Parece que o horror faz mesmo parte da vida na Terra.  O desrespeito aos animais é praxe há milênios e mesmo nos tempos atuais em que o ser humano tem acesso à informação em amplo espectro, os animais ainda  são tratados como mercadorias, seres destituídos de vida e sensibilidades.   Pouco importa para quem explora a vida desses seres sencientes se têm consciência, sentem dor, tristeza, alegria, etc.    O que vale nesse mundo cruel e especista  é a exploração dessas vidas em nome do lucro,  a cor do dinheiro às custas do sofrimento desses indefesos seres tão fragilizados e subjugados à arrogância humana. 

Há muitos casos de exploração da vida animal.  Especificamente, ensejo destacar a crueldade imposta a suínos,  numa carreta tombada na madrugada de terça-feira, dia 25, no Rodoanel, local próximo a Barueri em São Paulo.  Os animais ficaram agonizando durante 10 horas, aguardando o socorro.  E quando o mesmo chegou, não houve o menor respeito e cuidado com essas vidas. Animais foram retirados de qualquer jeito. O que importava era a carreta. A grande maioria ficou muito machucada.  

A INTERFERÊNCIA  DOS DEFENSORES DOS ANIMAIS

Nesse acidente morreram 19 porcos no local e 8 morreram após o resgate.  Tornou-se indispensável a interferência de ativistas na causa animal, para salvar os demais com o mínimo de respeito e compaixão a essas vidas.   Entre os 110 animais acidentados, 63 foram resgatados e levados para um santuário de animais em São  Roque, de propriedade da senhora Cintia Frattini, por sinal, minha amiga de longa data.   Nós, ativistas,mantemos uma grande rede de contatos por todo o Brasil.

Diversos voluntários, entre eles médicos-veterinários, estiveram no local cuidando dos demais porcos que estão muito feridos.  Estão arrecadando fundos para a manutenção e cuidados especiais, inclusive, com medicamentos.  Esses animais não serão abatidos e, posteriormente, serão doados a defensores dos animais vegetarianos ou veganos, para serem tratados com respeito como exige qualquer vida, seja animal ou humana.  Somos todos sencientes e nada justifica a barbárie, a crueldade contra eles.   

TRANSPORTE INADEQUADO E CRUEL  

Até quando a legislação permitirá que os animais sejam transportados em condições precaríssimas, apertados, sem poderem se mexer, como se fossem sacos de cimento, amontoados uns sobre outros? Nas estradas é comum ver-se esses caminhões conduzindo aves, cabritos, porcos, bois nas piores e mais degradantes condições possíveis  e a sociedade permanece incólume, como se isso fosse normal e aceitável.  

A classe política precisa se indignar e legislar, aprovar leis respeitosas à vida animal.  O mundo está mudando e a sociedade está ficando mais exigente. Os ativistas em defesa dos animais são muito atuantes e a causa reverbera em todo o planeta.  Não há políticas públicas que deleguem aos animais o mínimo de compaixão.  Apenas, exploração.  

FATO EMBLEMÁTICO PARA NOSSA REFLEXÃO

Precisamos entender que esse fato não pode ser em vão.  Tornou-se emblemático, como foi a morte do leão Cecil que causou comoção mundial.  Isso é para nossa reflexão.  Até quando seremos crueis, aceitando naturalmente a morte de animais e a exploração deles para nosso “bem-estar”?

E o bem-estar animal?  Será que a sociedade já parou para pensar nisso?  Quem outorgou ao ser humano o livre-direito de explorá-los?

POR UMA EDUCAÇÃO MAIS RESPEITOSA À VIDA ANIMAL

Por isso que vou às escolas e universidades ministrar palestras, sem apoio político e governamental.  Aliás, políticos e governantes não estão muito preocupados com a vida animal. Já não se preocupam com a Educação e a Saúde no Brasil.  Preocupação com a vida animal soa excentricidade, infelizmente.

Espera-se que o que ocorreu em relação a esses animais se torne  emblemático, servindo  de referência a nossa sociedade para que olhem para os animais com mais respeito. Observem que a mídia atualmente dá destaque em seus noticiários o que ocorre com a fauna em todo o mundo. Isso é um avanço, pois há menos de cinco anos tal fato não ocorria.  Portanto, está havendo avanço.

 ALIMENTAÇÃO CARNÍVORA NÃO É INDISPENSÁVEL

Muitos nutricionistas já afirmaram que a alimentação carnívora não é indispensável à manutenção de nossas vidas.  Todas as proteínas e  vitaminas responsáveis pela saúde de nosso corpo encontram-se no reino vegetal.   Por que alimentar-se de carne?  Uns dirão que o sabor da carne é diferenciado.  Ora, se não temperar a carne, o gosto deve ser o pior possível.  Assim, deduz-se que o sabor agradável está no tempero.

O ser humano precisa entender que os animais são seres sencientes como todos nós e se gostamos de ser respeitados e viver livres, eles também gostam.

É inconcebível que em pleno terceiro milênio ainda haja tanta brutalidade para com os animais.  E brutalidade é filha biológica da ignorância, prima do descaso. Em pleno século do saber e dos questionamentos, torna-se incompreensível que animais ainda sejam maltratados.

ANTROPOCENTRISMO É IRMÃO GÊMEO DO ESPECISMO   

Também, precisamos entender que o antropocentrismo é irmão gêmeo do especismo.  O homem sábio na acepção da palavra não se considera o centro do  Universo, subjugando tudo à sua volta;  o especismo é uma cultura ou entendimento que o ser humano pode escravizar, subjugar, destruir, matar seres de outras espécies por ser “superior” a essas mesmas espécies.  São irmãos gêmeos gerados pela mãe da ignorância.    Tais entendimentos não cabem em mentes sensíveis e respeitadoras à vida.  Tais conceituações estão devidamente superadas. Por isso, vou às escolas e universidades.

Quando o ser humano entender que não é senhor do mundo e a humildade envolver sua alma, fazendo-o respeitar a vida animal, aí será grandioso e um ser diferenciado.  Mas, os séculos passam e modificam-se apenas os cenários – a crueldade parece ser atávica, gerando sofrimento ao próximo – defensores da causa animal somatizam o sofrimento animal.

Fica no ar a pergunta que não quer calar:  até quando será assim!!! 

Gilberto Pinheiro é jornalista, palestrante em escolas e universidades sobre a senciência dos animais